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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

05/06/2020 - 10h32min

Daniel Andriotti

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Vidas negras importam

Independente do motivo, manifestações pacíficas fazem parte de uma sociedade democrática. Por isso, devem ser permitidas. Ponto. No entanto, quando começam as depredações e o vandalismo a polícia, sim, tem o dever de reprimir. O tamanho da força é que é o xis da questão.

Os últimos dias de maio foram marcados por violentos protestos nos EUA. Na imprensa e nas redes sociais, as imagens de lugares vazios – uma constante em período de distanciamento social – deram lugar a fotos de aglomerações. Manifestantes foram às ruas pedir justiça pela morte de George Floyd, um segurança de 46 anos, negro, morto por asfixia no último dia 25 por um policial na cidade de Minneapolis, estado do Minnesota.

O momento em que a vítima é algemada, jogada ao chão e morta foi gravado e divulgado nas redes sociais. Estava lançado o combustível para uma série de protestos que se espalharam pelo país feito rastilho de pólvora. Mesmo que em meio a uma pandemia. A cena de uma delegacia em chamas viralizou pela internet e o presidente Donald Trump, é claro, descarregou sua metralhadora giratória. Literalmente. Disse ele: "quando os saques começam, os tiros vêem junto". Em seguida, a Guarda Nacional norte-americana foi acionada para conter novas manifestações e logo em seguida, Trump recuou. O policial agressor foi demitido e preso e deverá responder por crime em terceiro grau – o equivalente a homicídio culposo no Brasil (quando não há intenção de matar).

O caso de Floyd não é novidade. O assassinato de pessoas negras pela polícia dos EUA tem se repetido sistematicamente a partir de uma abordagem policial de extrema violência. Para quem não sabe – ou não lembra – foi a morte de um jovem negro nos anos 50 que turbinou o movimento por direitos civis e construiu lideranças como Martin Luther King (assassinado), Malcolm X (também assassinado) e grupos mais organizados e militarizados, como os Panteras Negras. A morte de Trayvon Martin aos 17 anos, já em 2012, deu novo impulso ao movimento antirracista, com o lema "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam, em português).

O racismo piorou? Não. Ele só passou a ser mais divulgado. Os anos 90 escancararam episódios de racismo nos Estados Unidos e tornaram-se parte do cotidiano da cobertura jornalística. Com a tecnologia de fácil acesso e a proliferação das redes sociais essa violência passou a ser gravada e vista por um público negro muito maior do que só os que moram nas comunidades onde os casos acontecem. E isso aciona a chave da indignação. O que estamos vendo na escalada desses últimos anos é que a violência nunca parou. Por isso, os protestos nos EUA são tão violentos. Importante lembrar que, com a abolição, a política escravista norte-americana foi transformada em política de segregação racial: em muitos estados, negros eram proibidos de estudar em determinadas escolas, a votar e a frequentar bairros tidos como brancos.

Enquanto isso, no Brasil, na mesma semana da morte de Floyd, um menino de 14 anos foi morto dentro de casa por policiais durante uma operação no Rio de Janeiro. Aqui, nunca houve uma política explícita de segregação racial, mas a desigualdade é bem demarcada etnicamente quando se olham os números. Negros compõem a maioria da população brasileira (56%) para o IBGE, numa categoria que reúne pretos e pardos. Entretanto, homens negros têm expectativa de vida até 4,6 anos menor que a de homens brancos. Sem falar em sutis diferenças salariais, que é um assunto bem mais complexo e que eu não domino. Embora racismo seja crime no Brasil, atos racistas ainda não são percebidos com clareza pela população. A revolta norte-americana tem injeção eletrônica. A brasileira ainda precisa de um empurrãozinho para pegar no tranco...



Daniel Andriotti

[email protected]

Publicado em 05/6/20.

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