Gazeta Centro-Sul

Contato: (51) 3055.1764 e (51) 3055.1321  |  Redes Sociais:

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

28/08/2017 - 10h20min

Daniel Andriotti

Compartilhar no Facebook

enviar email

Estupidamente Correto

Já escrevi sobre isso aqui, mas vamos de novo porque é um assunto que me incomoda muito sob o ponto de vista da hipocrisia. Há algum tempo o Brasil e o mundo vêm passando por um fenômeno extremamente chato e fora de propósito: o tal do ‘politicamente correto’. O escritor Guilherme Fiúza (aquele mesmo do ‘Meu Nome Não é Johnny’) tem a seguinte teoria: “O politicamente correto continua sendo o melhor disfarce para o intelectualmente estúpido”.

Não sou muito apegado a saudosismos, mas quem viveu os anos 80 teve toda a despreocupação do mundo em relação às coisas mais simples. Lembro que a convivência entre as pessoas era mais clean, mais light, mais livre e mais tranquila. Eu tenho muitos amigos negros – e jamais discuti com qualquer um deles por causa disso. Eu os tratava por neguinho, pretinho básico, carvãozinho. Eu era chamado de alemão batata. Nenhum problema com isso. Ao contrário, juntos, ríamos muito. Por eles e por todos. E os gordinhos? Rolha de poço, cara de lua, bolota. Os magrelos eram vara de pescar, pau de virar tripa, minhoca esticada. Os baixinhos: salva-vidas de aquário, bandeirinha de futebol de mesa, segurança de baile infantil. Ou melhor: segurança não, Leão de Chácara. Aliás, hoje, esse tipo de profissional nas festas precisa ser tratado como “disciplinador” ou corremos o risco de um processo por preconceito ao cargo. Mas na época não tinha esse mi-mi-mi chato. Caso a coisa extrapolasse, as diferenças eram resolvidas como tinha que ser: no braço. Sem armas.

Agora, tudo é bulling. Tudo é agressivo...

A TV, que propaga ou defende o cinismo e a hipocrisia de acordo com o seu interesse, até bem pouco tempo tinha um programa humorístico chamado “Os Trapalhões”. Didi Mocó e sua turma – o mesmo Didi que hoje pede dinheiro para o “Criança Esperança” – era especialista em piadas racistas com seu colega negro, o Muçum, em pleno final de tarde de todos os domingos. Crianças e adultos adoravam. Jô Soares – hoje um velho ranzinza –, tinha um programa onde interpretava um personagem chamado Capitão Gay, com musiquinha, performance e indumentária rosa pink. Tudo isso era aceito sem frescuras e sem cara de choro por parte das minorias. Os ‘pseudo atingidos’ também morriam de rir com as piadas.

A indústria de entretenimento hoje está um porre. Já ouvimos músicas como “robocop gay”, “nega do cabelo duro, que não gosta de pentear...”, e até mesmo as infantis “atirei o pau no gato mas o gato não morreu...”. Hoje, isso é imperdoável e crime inafiançável. E o Rei Roberto que gravou “Coisa bonita, coisa gostosa, quem foi que disse que tem que ser magra pra ser formosa?”. No entanto – e agora vem a hipocrisia – funks do tipo “...não preciso mais beber e nem fumar maconha” e depois, “meu pai te ama…” (fala sério que era mesmo ‘meu pai’ a expressão da letra original???) é sucesso em todas as rádios do país.

Graças ao politicamente correto o mundo atual não permite mais expressões simples e coloquiais. Acredite se quiser: se você não lembrar o nome e chamar um amigo negro de… negro, ele certamente não vai se incomodar porque o relacionamento entre vocês é saudável e inofensivo. Mas se alguém escutar prepare-se para ser acusado de racista e responder judicialmente por isso. O mesmo vale para os gays, judeus, gordos, para os alemão-batatas, os baixinhos, os carecas...

Idoso agora é ‘melhor idade’. Melhor idade para quem, cara-pálida??? Bandido tem que ser chamado de bandido, certo? Só que não. Para o politicamente correto ele é um ‘excluído do sistema capitalista e opressor’. Por favor, me poupem disso!!! Quem viveu épocas mais leves, fica perplexo com o que está acontecendo. As pessoas estão chatas. O mundo está chato. O ser humano está chato. Mas o politicamente correto está insuportável.

Daniel Andriotti

[email protected]

Últimas Notícias

Este site da Gazeta Centro-Sul s
Ler mais

Aulas Presenciais em Guaíba
Ler mais

Monumento Farroupilha
Ler mais

Publicidade

Institucional | Links | Assine | Anuncie | Fale Conosco

Copyright © 2024 Gazeta Centro-Sul - Todos os direitos reservados