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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

21/08/2017 - 09h42min

Daniel Andriotti

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Violência aleatória

Em menos de um ano, a Europa sofreu nada menos do que oito atentados terroristas a partir do mesmo ‘modus operandi’: um motorista aluga um veículo e se dirige para um local com intenso fluxo de pessoas avançando sobre elas. Atropela, fere e mata. Utilizam um instrumento do nosso cotidiano – o carro – como uma arma letal. Percebam leitores, que estrategicamente o foco dos últimos atentados tem sido a Europa. E encontrei pelo menos duas vertentes para isso: a primeira é o fato de que, em qualquer país do velho continente, há pessoas de todos os cantos da Terra. Sejam turistas, sejam imigrantes. Logo, a agressão não é apenas contra a Europa; e sim contra o mundo. Este último, ocorrido na quinta-feira em Barcelona, as vítimas são pessoas de, pelo menos, 18 nacionalidades. Em princípio, nenhum brasileiro.

A segunda vertente – da concentração de ódio nos países europeus – tive que buscar junto a um amigo que morou até bem pouco tempo por lá, trabalhando na França, na Inglaterra, na Espanha... E ele é um desses estudiosos do comportamento humano. Disse-me que o poder político na Europa está se alterando com o crescimento da extrema direita (a França é o caso mais recente). Acrescente a esse fato ingredientes como a crise econômica e financeira internacional. Tudo isso serve como pano de fundo em grandes comunidades de jovens com vinte e poucos anos, ‘desenraizados’ e perturbados por problemas sociais e políticos. Essa situação cria bolsões de ressentimento e é nesses bolsões que se ‘recrutam voluntários’ para ações dessa natureza. É a chance de disseminar o medo através da violência aleatória.

Segundo ele, recrutar não quer dizer que organizações terroristas viajem pelo mundo ‘selecionando’ integrantes para suas ações. Num passado recente era assim. Agora, a internet faz isso por elas. A fragilidade do caráter de muitos desses jovens contribui para que seu radicalismo se transforme em violência, desencadeando a sociopatia, a psicopatia e as tendências homofóbicas. E, então, acabam encontrando numa ou noutra ideologia, reacionária e violenta – mesmo que virtual – a capacidade de resposta para as suas próprias frustrações. Isso me lembra o caso do rapaz que vivia humildemente com os pais no interior de Morro Redondo, aqui no extremo sul do Rio Grande e que jamais conviveu com alguém do Estado Islâmico. No entanto, “se encantou” com algumas práticas e ideologias daquele grupo terrorista e, às vésperas dos jogos Olímpicos de 2016, foi preso – lógico – por apologia ao terrorismo. No caso dos europeus, eles não ficam somente na apologia...

Normalmente, algumas horas após um atentado de grande repercussão internacional, as principais organizações terroristas (que nesse momento passam a ser organizações oportunistas) ‘reivindicam’ a autoria do ato para promoverem seu lobby de ódio, mesmo que não tenham nada a ver com o ocorrido. Tipo ‘periquito come milho, papagaio leva a fama...’

Outra coisa que me chama a atenção é que – à medida do possível – precisamos desassociar o relacionamento do terrorismo às questões religiosas. Algumas manifestações mostram que a intolerância caminha de mãos dadas com a ignorância pois não é de hoje que as pessoas relacionam o mundo muçulmano com violência e terrorismo. Embora essa percepção seja desproporcionalmente criada, é preciso reconhecer que em alguns casos há, sim, relação entre o terror e o islã (religião monoteísta fundada pelo profeta Maomé e cujos fundamentos estão representados no Alcorão, livro sagrado que serve de base para a fé muçulmana). Alguns integrantes do Estado Islâmico, como a Al-Qaeda, por exemplo, entre outros grupos jihadistas (indivíduos contra instintos básicos que lutam para construir uma boa sociedade muçulmana ou uma guerra pela fé contra os infiéis), têm motivações religiosas, agem em nome do islã e acreditam estar representando seu credo, ainda que sua visão de mundo seja amplamente rejeitada no contexto árabe-muçulmano. Mas que fique bem claro: isso não é uma regra.

Enfim, o terrorismo causa ao mundo desenvolvido e globalizado uma extrema sensação de insegurança. A qualquer hora, em qualquer lugar, uma pequena multidão pode morrer a partir de uma ideologia que não se sabe direito qual é. No Brasil não temos ataques terroristas (ainda), mas se é para falar em sensação de insegurança podemos dar aulas de pós-graduação, doutorado e pós-doutorado para qualquer cidadão do mudo.

Daniel Andriotti

[email protected]

Publicado em 19/8/2017.

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