Gazeta Centro-Sul
Sexta-feira, 26 de abril de 2024
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21/11/2019 - 16h47min
Comportamento
Elos da Corrente
Decidi me colocar à prova nestes derradeiros dias do ano e tomo a liberdade de propor o mesmo a todos aqueles que me leem neste exato momento. Para refletirmos um pouco mais sobre nossos sentimentos e ações, se a vida está nos formatando como elos ou cortadores de correntes, ou, quem sabe, em nenhuma coisa nem outra, e apenas tenhamos nos tornado absortos e distantes do mundo real.
Verdade seja dita, já percebi que não é tarefa fácil, essa. Exige amplo, geral e irrestrito desprendimento de toda forma de certezas absolutas que estejam enraizadas em nossas mentes, em nossos corações. Nada de disfarçar erros cometidos e frases agressivas pelas quais não nos desculpamos, enfrentar a falta de sensibilidade que por vezes nos acometeu e a arrogância do ego inflado em momentos da mais bela simplicidade.
Livres, então, dessa pesada bagagem que só nos faz marcar passo vida afora, estamos prontos a meditar para respondermos a questão que nos desenhará novos e melhores caminhos a seguir: afinal, temos sido elos ou cortadores de correntes? Ou será que isso já não tem importância, pois nos afastamos tanto da nossa própria humanidade que tanto faz como tanto fez?
Partimos em busca das boas lembranças da infância, daqueles tempos despreocupados, de jogar cinco-marias e bulita na calçada. E nos damos conta de que sequer imaginávamos os esforços feitos nos bastidores daquelas cenas para que pudéssemos ser apenas crianças sorridentes, bem alimentadas e protegidas de bichos-papões. E a questão primordial se refere à gratidão aos nossos ancestrais. Será que seremos capazes de suplantar a tristeza dos momentos difíceis por meio do perdão incondicional e amoroso aos familiares?
Eis que, de repente, nos vemos em imaginário pedestal, enumerando defeitos nos outros, cheios de exigências de perfeccionismo em relação às pessoas que amamos. E na nuvem de egocentrismo que às vezes nos envolve, dedo em riste fazemos cobranças insensatas, apontamos culpas e culpados por falhas que, não vimos, foram nossas. Agindo como ferramentas de cortar elos afetivos, um abismo começa a surgir diante de nós; com o tempo, colocando-nos como eremitas. É isso que realmente queremos ser?
Estou decidida a colocar meus sentimentos e minhas ações à prova nestes dias que anunciam o final de mais um ano. Meditar sobre a vida como presente divino, o mundo como a casa a que todos temos direito, a gratidão e o perdão como essências que alimentam o corpo e a alma.
Tomo a liberdade de propor o mesmo a todos aqueles que me leem neste exato momento. Para descobrirmos que papel temos assumido em nossas famílias, na sociedade onde vivemos.
Na corrente afetiva que melhora o mundo, temos sido elos ou cortadores de correntes? Nenhuma coisa nem outra, apenas absortos e distantes do mundo real?
Cristina André
Publicado em 16/11/2019.
