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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

26/03/2018 - 11h13min

Comportamento

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Vidas Costeiras

Às margens da Lagoa dos Patos, primeira infância das melhores. Casa com pátio, cuidados de pai e mãe, irmãos mais velhos para guiar todas as criancices. Daquelas águas doces que o oceano invadira, uma calmaria salobra acompanhava nossas vidas costeiras. Na maior das escolas, lições importantes sobre seu primeiro nome, que deveria ser laguna; e que era a maior de todas da América do Sul.

Poucos passos depois do pequeno jardim de hortênsias que nos levava direto ao mundo lá fora, podia-se ver a lagoa - que o mar, por tê-la invadido, transformara em laguna. E nos passeios para brincar em suas areias macias, colocar os pés na água era incomum felicidade, mesmo em solo submerso pegajoso.

Nos verões, talvez pela pequena prova de mar que a grandiosa lagoa permitia, embarcávamos atrás de águas verdadeiramente salgadas. Cômoros de areia quase batendo na porta dos fundos, nada mais havia além do mar, era o que nos bastava. Até que as águas de março e o colégio das freiras fechassem o nosso verão, levando-nos de volta à rotina da laguna.

Vida que segue, chegou o dia da mudança para outra cidade, mais perto das grandes escolas que os adolescentes precisavam frequentar, com mercado de trabalho se oferecendo para a juventude. E foi difícil a despedida do lugar que era nosso, com águas que o próprio oceano queria para si. Adeus àquela calmaria salobra, aos seus ares delicados.

Chegando ao mundo novo que a mãe anunciara, surpresa das melhores. Da casa a nós reservada, podia-se ver águas também novas, de um rio de beleza ímpar que exibia a Capital em sua margem oposta. Era o Rio Guaíba.

Naquele dia, compreendemos a mudança que se dera em nossa família, sentimos certo alívio, corações se encheram de secreta esperança. As crianças, que viviam à beira de águas abraçadas pelo oceano, tinham dado início a outra vivência costeira, de águas que ousavam se movimentar na direção do mar, cheias de atitude.

Não demorou, porém, até que a polêmica sobre seu primeiro nome chegasse em nossos cadernos escolares. Seria um lago, não um rio, o lugar daquelas águas doces que aprendêramos a amar e respeitar. Mas isso em nada nos abalou, já tínhamos abraçado aquele rio, colocado suas boas águas em nossas vidas.

Agradeço a Deus, todos os dias, pelo privilégio de ter vivido a primeira infância em Tapes, às margens da Lagoa dos Patos, que se acalmava nos braços do mar. E pela mudança que se fez necessária e nos instalou em Guaíba, às margens do Rio Guaíba, com suas águas que buscam o mar, feitas de atitude e ousadia.

Cristina André

[email protected]

Publicado em 24/3/2018.

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