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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

05/06/2017 - 15h15min

Comportamento

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Acalmando Corações

Chove a cântaros, há uma feira de livros na praça perto da nossa casa, está anoitecendo. Sopa bem quente será preparada, é arma poderosa para vencer o frio que já se refestela pelas ruas, ventania dando movimento aos coqueiros e aos plátanos. Às encrespadas águas do Guaíba, que um dia foi rio e agora é lago, cabe cumprir a tarefa de me banhar de natureza e suspiros.

Penso nas incontáveis vezes que essa paisagem caseira e extraordinariamente bela me relaxou do trabalho, me consolou de tristezas, me fez companhia silenciosa em grandiosas alegrias. Lembro-me de algumas histórias breves, de gente boa que nos vizinhava, do tanto de emoção e delicadeza que o tempo é capaz de permitir aos nossos corações.

Ali na praça, onde acontecem festas natalinas, briques e shows, havia carpas enormes em um aquário de azulejos. E alguns pequenos macacos viviam em grandes cercados, deixando boquiabertas de encanto a maioria das crianças que passavam. Um deles, chamado de Chico - não sei de quem foi a escolha do nome - parecia ser o mais esperto. Ao avistar gente se aproximando, esticava o bracinho para fora da grade, olhar de inocência e mão aberta esperando amendoim ou bala. Depois de ganhar lanche extra, corria para pegar sua pedrinha e quebrava as guloseimas em pedacinhos, saboreando um a um com cara de faceirice.

Onde ficam estacionados os carros de quem embarca no catamarã e acontecem eventos gastronômicos e musicais, naqueles meus dias infantis era uma área destinada aos circos que passavam pela cidade. Trazendo elefantes, cavalos, leões e tigres como parceiros dos artistas nos melhores números apresentados, precisavam de um local amplo e tranquilo, com bastante água por perto. Nos espetáculos, uma moça bonita, vestindo maiô bordado com pedras de muito brilho, luvas de cetim e plumas coloridas nos cabelos presos, botava a cabeça na boca do elefante, sob a luz dos holofotes e ao som de tambores rufando, até que o domador ordenasse a saída. Fechávamos os olhos de medo, depois aplaudíamos.

Chuva caindo, feira de livros acontecendo nos arredores da praça, antiga morada das carpas e do Chico. Noite fria que chega, preparo sopa quente para o jantar, enquanto o vento, remexendo as águas do Guaíba, faz a natureza suspirar. Na paisagem caseira e extraordinariamente bela, me perco em histórias de antes, me emociono com a delicadeza que o tempo é capaz de nos presentear, acalmando corações.

Cristina André

[email protected]

Publicado em 3/6/2017.

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