17/04/2017 - 10h38min
Nascida e criada em família católica, alfabetizada em colégio de freiras e primeira comunhão feita aos sete anos, desde cedo me ensinaram que a semana encerrada no Domingo de Páscoa tinha um significado especial, representava a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo.
Verdade seja dita, para nós, as crianças daquelas semanas santas sem música nem risos, o melhor de tudo acontecia no domingo do Coelhinho trazer, sorrateiramente, cestas de vime e palha com ovos de chocolate e de açúcar colorido, coelhos feitos de pão de mel e de marzipã.
Tudo começava no domingo anterior, chamado de ramos, pelo dia em que Jesus chegou a Jerusalém, montando um jumento, e as pessoas estenderam seus mantos e ramos verdes para que ele passasse. Na missa, acompanhando a mãe, eu presenciava as bênçãos dadas aos ramos que eram levados à Igreja e que depois seriam postos em pequenos altares caseiros.
Na quinta-feira, para que não fosse esquecida a última ceia de Jesus com os apóstolos, havia a cerimônia do lava-pés, mensagem de amor e humildade. E lá estávamos nós, véus rendados cobrindo cabelos, rezas e rosários de contas, assistindo a lavação de pés que acontecia com gente conhecida em plena missa.
A sexta-feira era dedicada à quietude e às orações, data para rememorar a morte de Cristo no Calvário, reafirmar a santa cruz como símbolo de salvação do mundo. E de assistir a encenação da Via-sacra, refletir sobre o caminho percorrido antes da crucificação. Sabíamos, eu e meus irmãos, que música não tocaria lá em casa, nada de brincadeiras nem faceirices; nas refeições, peixes e frutos do mar.
No sábado santo, Cristo no sepulcro, acontecia vigília e procissão, cada pessoa carregando vela acesa, feito luz do caminho para a terra prometida. Eu e a mãe também íamos, nossas velas envoltas com papel por causa do vento, repetindo que dávamos graças a Deus.
Eis o domingo da ressurreição, o dia santo mais importante para todos, data do Cristo ressuscitado. Paixão e morte dando lugar à ressurreição. E a rotina, acompanhada da alegria e seguida pela esperança, estava de volta a nossa casa. Podíamos tagarelar sobre os ninhos que o Coelhinho tinha trazido, com seus ovos coloridos celebrando a vida. No almoço que reunia a família, éramos felizes de novo, tudo graças às rezas maternas.
Feliz Páscoa!
Cristina André
[email protected]
Publicado em 14/4/2017.
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