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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

10/04/2017 - 14h05min

Comportamento

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Perfume de Vida

Nas minhas caras lembranças, aquelas vividas em tempos mais ingênuos e românticos, há sempre uma música de fundo, um perfume de quitute caseiro, uma cena familiar. Combinação mais do que perfeita, trio ternura que segue alimentando esse meu coração de manteiga.

Fecho os olhos e vejo a casa da infância, parreira carregada se fazendo de túnel que meu pai atravessava para buscar rabanetes na horta. Nos almoços, me intrigava seu gosto adulto e metódico para saboreá-los: cruz desenhada na parte de cima, com faca afiada, feita para acomodar os minúsculos cristais de sal. Aquela cena linda, da neve caindo sobre a cruz vermelha no prato do almoço paterno, ficou tatuada em mim.

Emocionam-me as histórias contadas pela mãe, algumas antes mesmo de mim, sobre os irmãos mais velhos. Um deles adorava mingau, pedia dois pratos; o outro gostava de pão feito em casa com nacos de manteiga; e a irmã, uma apaixonada por todo tipo de doces. E ríamos quando me confessava sua predileção secreta e meio sem graça por arroz com ovos fritos, gemas se desmanchando, e canjica nas tardes frias.

Nos dias de colher frutas e fazer doces de tacho, viajávamos para a fazenda dos avós. Os dias ainda bocejavam com sono, e nós, as crianças, acompanhávamos o tirar do leite, extraordinário presente que enchia canecos de quentura e espuma. Um tarro se transformaria em ambrosia bem morena; outro, era para fazer o doce de leite que adoçava nossa felicidade.

Brincávamos de casinha, colhíamos frutas, íamos ver as cabeças de gado que ganháramos no nascimento e um dia nos renderia bom dinheiro. Enquanto andávamos de mãos dadas com a liberdade e a natureza, fogo de chão aceso no pátio da casa, aquelas mulheres que tanto me ensinaram da magia amorosa ficavam ali de conversas e sorrisos, durante horas, mexendo frutas e açúcar com enormes utensílios de madeira. Achávamos que eram remos de algum barco encantado que navegara no arroio. Serviam para tomar distância do doce quente sempre querendo saltar.

Que perfume tinha a goiabada, como era bonito ver a alegria da mãe e da vó com o doce já embalado e colocado em pequenas caixas de madeira. Aquela simplicidade caseira parecia uma festa.

São caras as minhas lembranças daqueles tempos de hortas e parreiras, de doces em tachos e pães feitos em casa, de refeições sem pressa. Parece que sempre havia uma música de fundo, um quitute caseiro, uma cena familiar. Era o perfume da vida se espalhando pelo ar.

Cristina André

[email protected]

Publicado em 08/4/17.

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