27/03/2017 - 12h44min
A mãe nos acordava e dizia, com aquele seu jeito único de general bem humorada, que as aulas estavam suspensas, podíamos dormir mais um pouco. Mas a alegria da nossa infantil preguiça matinal durava muito pouco, só o tempo de deitar a cabeça no travesseiro outra vez. Ela então dava uma boa risada e completava, tirando os lençóis que nos cobriam, que era primeiro de abril.
Era assim que começavam aquelas vinte e quatro horas do ano especialmente dedicadas a contar ingênuas mentiras, pregar peças aos amigos, brincar com a vida. E por mais que soubéssemos que o primeiro dos trinta aprilinos dias seria assim, sempre caíamos como tolos.
Verdade seja dita, pouca gente sabe qual é a origem dessa data de aplicar falsidades bobas e logo corrigi-las. É uma história interessante, aconteceu na França, no século XVI, quando o Rei Carlos IX adotou o Calendário Gregoriano como oficial em seu reinado. Criado pelo Papa Gregório XIII para substituir o Calendário Juliano, que Júlio César apresentou no século I aC, a novidade provocou mudanças em datas festivas.
Enquanto no Calendário Juliano o Ano-Novo era em 25 de março, e os festejos duravam cerca de uma semana, até 1º de abril, no Calendário Gregoriano um novo ano chegava no dia 1º de janeiro.
E como costuma acontecer em todas as mudanças radicais, a aceitação não foi de imediato por parte dos súditos do Rei Carlos IX, o primeiro a colocá-lo em vigor. Assim sendo, muitas famílias francesas continuaram seguindo as datas comemorativas da folhinha juliana.
Os conhecedores do novo calendário adotado, que já festejavam o Ano-Novo no primeiro dia de cada janeiro, faziam troça dos compatriotas que ainda esperavam para fazê-lo no primeiro de abril, data que já não valia. Passaram então a chamá-los de tolos; e o seu Ano-Novo, de mentira. E a história ocorrida na França se repetiu mundo afora depois que o Papa Gregório XIII, em 1.582, oficializou o novo calendário em todos os países católicos.
Gosto de lembrar da mãe, do jeito que nos acordava dizendo que não teríamos aula, logo desmentindo com boa risada, lembrando-nos que era primeiro de abril, o dia dos tolos que não aceitaram o Calendário Gregoriano (até hoje vigorando em nossas vidas).
Cristina André
Publicado em 25/3/17.
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