05/04/2021 - 09h04min
O Brasil se tornou um teatro de fobias. Um País chato e perigoso, atolado numa disputa implacável entre dois polos se engalfinhando o tempo todo; disputa alimentada por elite controladora e interesseira.
Neste quadro viperino, cerca de 25% vestem a armadura da esquerda, tendo Lula como Herói, e 25% vestem a armadura da direita, tendo Bolsonaro como Herói. E dá-lhe dedo no olho! Do restante da população adulta, 49% despendem toda a energia para sobreviver, e um por cento são da elite que controla tudo, cujo foco é permanecer no comando, mantendo seus privilégios e brincando de deus.
Do grupo controlador, saem perguntas como a que foi feita pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, no julgamento da Segunda Turma da Corte, na terça-feira, 23 de março, sobre a suspeição do ex-juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro, em relação ao julgamento do Lula no processo do triplex. Questionou o ministro aos berros, com baba nos lábios: - Quem compraria um carro do Moro?
Quem ousa se meter nos negócios da turma do andar de cima não consegue sequer vender o carro.
Sobre fechar o comércio
Na edição do dia 12 de março, eu me manifestei aqui na Coluna contrário ao fechamento total do comércio, justificando que o maior problema da contaminação do coronavírus não está no comércio para que o setor receba a principal medida de controle. Destaquei que os maiores problemas estão na aglomeração em festas clandestinas e no transporte coletivo. Repercutiu.
Alguns leitores ressaltaram que o comércio aberto gera aglomeração nas ruas e no transporte coletivo. No raciocínio do 8 ou 80, sim. Mas existem alternativas, com horários diferenciados por setor. Além disso, não vejo incentivo ao transporte por bicicleta, por exemplo. Estamos presos em planos que não deram certo. Fecham tudo, o contágio recua, mas volta com mais força. É preciso colocar na balança a questão da proliferação da miséria. Que pai ou mãe não adoece quando enfrenta dificuldades para alimentar seus filhos?
Defender o home office por quem pode trabalhar em casa e tem o salário garantido é brincar de Maju.
Enquanto a vacina não chega para todos, o mais importante é a população se conscientizar do problema e fazer a sua parte. Todos sabem o que fazer.
Por incrível que pareça, depois de um ano de pandemia e de três mil mortes por dia em decorrência da Covid-19, o presidente do Brasil e líder do negacionismo se deu conta de que o caso é sério.
A Pintura da Biblioteca
De repente, a fachada da Biblioteca Pública de Guaíba apareceu pintada com imagens do Papa, de São Jorge, de Iemanjá e de Nossa Senhora, entre outras.
Na verdade, o problema transcende aquela pintura: está na falta de comprometimento das lideranças com a história do Município. O Conselho Municipal de Cultura me parece desnutrido. Em geral, os gestores públicos não se importam com o patrimônio histórico e cultural. Isso vem lá de trás.
Aqui na Aldeia, mudam nomes de prédios e espaços públicos como quem troca de camisa; derrubam monumentos e prédios históricos como se fossem galpões. E, neste contexto, pintaram a fachada do prédio da Biblioteca Pública como se fosse uma espécie de casa das religiões. Quem aprovou o projeto sequer juntou o tico com o teco. Deve ter achado lindo o mix de deidades decorando a fachada da Biblioteca.
Tramita na Câmara Municipal um projeto para tornar a música gospel como patrimônio imaterial de Guaíba, sem que o Município tenha músicos renomados no segmento ou promova algum evento gospel tradicional de destaque no Estado. O que importa é fazer média para ganhar votos.
Retrato da Pandemia
De repente a vida para e a rotina parte em retirada
Quanta dúvida no ar, quanta angústia a cutucar
As festas só em lembranças, as praças sem crianças
Viagens presas no álbum, humor só em cartum
As ruas estão vazias, proibidas as alegrias
O abraço se ausentou, o medo se apropriou
O inimigo é invisível, o combate imprevisível
A saudade procura amigos, a escola um vazio doído
Os avós estão prostrados, os netos deprimidos
Movimentos adormecidos, sorrisos escondidos
Diversão ponto bloqueado, o palco abandonado
O cinema drama calado, o hospital está lotado
Os números não são bons, o celular dá o tom
As notícias são pesadas, as casas estão cansadas
As compras monitoradas, esperança só vacinada
Os encontros estão na tela, felicidade em luz de vela
O mundo em mutação, correndo na contramão
A força atrás da cortina, valores estão na vitrina
O novo no quadro branco, ensejo no velho banco
O futuro é um presente, o presente foge da gente
O tempo já se esqueceu, na empatia o outro sou eu
O ar é o grande bem, locomotiva que puxa o trem
A porta é decisão, a janela respiração
O livro além do muro, a família porto seguro
Trabalho na casa isolada, no comércio porta fechada
O alimento como sustento depende de cada momento
Importante é seguir em frente, mas tudo está pendente
Não adianta correr e não há onde se esconder
O desafio é contagiante, a ação mais importante
E, no final, quem sabe encontraremos a verdade.
Leandro André
Publicado em 26/3/21.
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