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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

20/04/2021 - 09h48min

Leandro André

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Cem Dias do Governo Maranata

Podemos considerar cem dias como um período razoável para reconhecermos a identidade de um governo. Todo gestor que inicia um trabalho precisa de um tempo mínimo para organizar seu método de atuação; para botar seu bloco na rua.


Considerando a experiência que adquiri fazendo cobertura política na Aldeia em quatro décadas, mais as informações que possuo a partir de pesquisas do Instituto People e de dados oficiais que formam a estrutura do Município até aqui, é possível identificar o perfil do governo local em cem dias. É o que me proponho a fazer nesta Coluna, de forma objetiva, com independência. Vamos lá!



A Origem

O Governo Maranata vem de uma oposição aguda ao governo anterior, com apoio ancorado no teatro espalhafatoso das redes sociais. Se elegeu com uma margem apertada de 212 votos. Conquistou um terço dos eleitores que votaram e um quarto dos aptos a votar. A abstenção nas eleições de novembro do ano passado foi de 27%. Essa informação é relevante, considerando o aval popular na largada.

Além de ter sido apertada, a eleição do novo governo passa por uma aliança formada aos 44 do segundo tempo. No campo ideológico, o Prefeito Maranata (PDT) é de um partido que prega o impeachment do Presidente Bolsonaro, e o da vice Cláudia Jardim (DEM) é da ala que apoia incondicionalmente o Presidente Bolsonaro. Em comum, a postura crítica ao Governo Sperotto.

Ações Positivas

O mais importante que observei nestes cem dias é o entusiasmo do Prefeito Maranata. Isso é relevante para um gestor tocar o trabalho, em que pese o exagero populista: lava a louça na casa de famílias pobres, ajuda a manobrar carros no drive-thru da vacinação e marca presença no front. Sem contar as imagens espetaculares feitas por drones, que muitas vezes destoam da realidade em terra firme.

No que se refere à organização da gestão, percebo pontos positivos na estrutura da máquina, agrupando trabalhos afins em setores específicos. Por exemplo, todos os serviços relacionados à infraestrutura (obras, meio ambiente, iluminação pública...) agrupados no mesmo espaço. Segue nesta linha para os serviços burocráticos, jurídicos, de Saúde, Educação, Assistência Social e Cultura. Cada segmento no seu quadrado, visando dar agilidade aos serviços. Isso está sendo montado a partir de uma reforma administrativa possível, considerando a legislação vigente.

Neste contexto, destaco a nova Secretaria de Licitações e Contratos. Se funcionar conforme a proposta original, pode ajudar muito na economia do dinheiro público, reduzindo contratações de empresas vulneráveis que abandonam o trabalho no meio, principalmente obras, gerando grandes prejuízos.


Outro ponto positivo que identifico é a proposta de Governança Participativa que começa a sair do papel. Uma sala especial foi criada, ao lado do Gabinete do Prefeito, para atender os conselhos municipais, as associações de moradores e diversas entidades. Governo e representantes da sociedade lado a lado.

O pacote de benefícios para facilitar o pagamento do IPTU e das pendências com o Município também entra no conjunto das boas ações nestes cem dias de Governo Maranata.

Pontos Negativas

De negativo nesta largada, destaco a quebra de discurso em relação aos cargos de confiança e privilégios.

Conforme citei no início desta Coluna, o Governo vem de uma oposição aguda à administração anterior, ancorada na artilharia das redes sociais. Um grupo batia pesado, principalmente em relação aos CCs, definindo o comando como os “amigos do rei”. A crítica era forte, também, em relação ao atendimento da Saúde. No entanto, um mês e vinte dias após o início da atual administração, todos os críticos de plantão nas redes sociais, rejeitados pelo voto (nenhum chegou perto de se eleger), foram contratados como CCs, com bons salários, e ainda receberam portaria de 100% em plena pandemia. Os tagarelas bem remunerados se calaram, mas parcela significativa da sociedade não engoliu.

Todos os governos têm CCs, mas o ponto em questão é sobre o pagamento de salários dobrados em um momento dramático de pandemia em que muitas famílias passam por dificuldades até para se alimentarem. A qualificação do grupo é outro espinho atravessado.

E tudo se complica com a questão do nepotismo cruzado: parentes de vereadores com cargos na Prefeitura fazendo sabe-se lá o quê. Nada muito diferente do que sempre aconteceu, mas a promessa de campanha era de mudar isso. Além de não mudar, parece que piorou.

Na sequência, o Governo anuncia que não irá repor a inflação nos salários dos servidores efetivos e professores, alegando questões legais. Ver matéria nesta edição.

No caso das portarias, a justificativa se baseia na carga horária de seis horas para atendimento integral. Entendo que um escalonamento de horários seria suficiente para evitar a medida de dobrar salários já bem acima da média.

Os sindicatos não aceitam o argumento da ilegalidade para a reposição salarial e o namoro firme com os servidores efetivos se transforma em conflito.

Imagino o estardalhaço nas redes sociais se estas portarias de CCs fossem dadas no governo anterior. Posso imaginar, também, o discurso inflamado da então vereadora Cláudia Jardim, na Tribuna da Câmara, criticando veementemente o fato de os professores não receberem sequer a reposição da inflação. Agora, como vice-prefeita e secretária da Educação, um silêncio de igreja sem missa.

Quebra de discurso gera dano visceral e, se não for reparado logo, se transforma numa kombi cheia de pedras subindo a Rua Otaviano com o freio de mão puxado.

A iluminação pública é um dos serviços mais criticados pela comunidade. Nenhum avanço aconteceu neste início de Governo, continua ruim, conforme vinha acontecendo no ano passado.

Saúde e Educação

Fica muito difícil avaliar os serviços de Saúde e de Educação durante uma pandemia. Existem muitas questões envolvidas que fogem da alçada do Município, tendo em vista o envolvimento dos governos Estadual e Federal, o acesso da população à internet, a crise econômica nacional, o desemprego e a disponibilidade de mão de obra qualificada, entre outras.

No atendimento de Saúde que compete ao governo local, houve troca de gestor do Hospital Regional e ampliação de leitos. A seguir, vamos analisar o resultado prático disso.

O sistema de vacinação segue dentro da média do Estado, com altos e baixos.

Mortes Acima da Média

Quando verificamos os resultados do combate à Covid-19 na Aldeia, percebemos uma situação inquietante.

Conforme levantamento nacional feito pela Universidade Federal de Viçosa sobre os casos de Covid, com todos os municípios brasileiros, Guaíba aparece no vermelho. Considerando o número de mortos ao total de infectados, o índice de letalidade na Cidade é de 4,8% e a média nacional é de 2,3% (dados do dia 14/4, divulgados pelo Portal G1). De acordo com o levantamento, o número de mortes por Covid-19 em Guaíba, comparando com o de infectados, é o dobro da média dos municípios brasileiros.

Apurei que o setor de atendimento clínico do Hospital local não dispõe de um médico de plantão à noite, exclusivo para atender pacientes de Covid. Isso é preocupante.

40 Minutos por Dia

Na Educação, alguns pais reclamam do reduzido tempo de hora-aula remota: cerca de 40 minutos por dia, conforme matéria divulgada pela Gazeta Centro-Sul na edição impressa do dia 9 de abril.

Agora, com a insatisfação dos professores devido a não reposição salarial, o que não está bom pode piorar. Os educadores estão em estado de greve porque não recebem o Piso Nacional e anunciam que estão terminando com os plantões nas escolas, sem garantias sanitárias, e não realizarão mais aulas síncronas utilizando seus computadores e internet pessoal.

A Revelação do Maranata

Mantenho contato regular com o prefeito Marcelo Maranata pelo WhatsApp, por telefone, e, às vezes, pessoalmente, durante entrevistas e eventos. O foco das nossas conversas é o Governo Municipal. Ele faz questão de saber das reclamações da população que chegam na Gazeta e aborda, também, sobre seus projetos e ações, por isso sei que ele está empolgado, conforme citei antes.

Em um telefonema no final de janeiro, o Maranata fez uma revelação importante, que pode fazer a diferença na sua gestão se acontecer na prática. Ele me disse que vai escutar quem pensa diferente dele, pois entende que ficar preso, ouvindo somente quem pensa igual, dificultaria seu trabalho. Forte, essa!


A pior coisa que pode acontecer a um gestor público é ficar cercado por assessores dedicados a elogiar o chefe, maquiando a realidade. Isso aconteceu recentemente e não deu certo.

Conclusão

Não se pode avaliar de forma definitiva um governo em cem dias, mas neste período podemos reconhecer a sua identidade. É o que fiz de forma resumida, tentando ser justo, analisando ações e resultados até aqui.


Não considerei projetos a serem executados, nem inaugurações de obras iniciadas e praticamente concluídas no governo passado.

No que acredito

Eu moro e trabalho em Guaíba há mais de 40 anos. Escrevi um livro sobre a história do Município e tenho trabalhos importantes realizados na Aldeia.


Entendo que a alternância no poder, com diferentes correntes de pensamento, pode gerar avanços. Acredito no trabalho imparcial e plural da Imprensa profissional como indispensável para o desenvolvimento social, fiscalizando a utilização dos recursos públicos e cobrando soluções.

Creio que uma comunidade se desenvolve com mais agilidade e harmonia quando está engajada no sentimento de pertencimento.

Além de fazer a minha parte, torço para que projetos direcionados ao bem comum sejam executados com dedicação pelos gestores públicos e, principalmente, com coerência entre o discurso e a prática.

Leandro André

[email protected]

Publicado em 16/4/21.

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