07/01/2019 - 14h55min
Eu estava cobrindo aquela reunião na AABB, no final dos anos de 1980, quando lideranças da Cidade se reuniram para formar um Frentão, visando assumir o comando de Guaíba e implantar uma nova gestão. Essa era a proposta. Um medidor de vaidades naquele recinto certamente explodiria.
Discurso vai, discurso vem, e o foco era a tal mudança necessária na administração pública do Município, com o que todos concordavam. Não faltou emoção; na verdade, sobrou.
Lá pelas tantas, a pauta chegou no ponto em que era preciso escolher um nome para se candidatar a prefeito, pois não seria possível assumir a Aldeia sem um cacique que representasse os demais. E eu lá, infiltrado no meio do alto clero, atento, anotando tudo em um pedaço de papel para não esquecer dos pontos principais, conforme faço até hoje. Não integrava o movimento, apenas registrava como jornalista.
Finalmente, veio a pergunta: quem se candidata? Na verdade, todos queriam se candidatar, mas a vaidade de macho diplomado impedia tal exposição entre os pares. Depois de um murmurinho, eis que o comerciante e arquiteto José Sperotto se apresentou, apontando para o alto: - Eu me candidato! A frase quebrou o silêncio rotundo no recinto. Só pela coragem de se candidatar naquele grupo de notáveis, o Sperotto nasceu como político, com tudo o que cerca um político: apoiadores e opositores. Depois da surpresa, teve palmas.
O Frentão se encontrou algumas vezes, construiu estratégias em meio a explosões de ideias e não demorou para sucumbir à empatia do Dr. Solon Tavares com o povo. Enquanto o Frentão navegava em mares distantes, Solon atendia os pobres nas vilas, bebia nos botecos da Aldeia e se comunicava diretamente com os mais simples. O Frentão afundou e o Solon voltou ao comando da Aldeia. O saldo da estratégia dos notáveis foi o surgimento de José Sperotto como liderança política.
Com o tempo, Sperotto se elegeu e se reelegeu deputado estadual, foi nomeado secretário de Estado e tentou quatro vezes se eleger prefeito de Guaíba, até que conseguiu em 2016.
Prefeito com Cabeça de Deputado
O Sperotto assumiu a Prefeitura de Guaíba em janeiro de 2017, falando grosso, prometendo fazer gestão e dando carteiraço de arquiteto e urbanista. - Agora vai!, gritou um baixinho cambota, faceiro como o Selito instalando balanço feio na Beira.
O deputado assumiu o cargo de chefe do Executivo Municipal aparentando confundir berimbau com gaita. Nos primeiros meses, fez faxina na Cidade, que estava bem suja, dando corda à faceirice do baixinho cambota. Mas, com o passar dos meses, o Governo Sperotto foi se enroscando em denúncias e lambanças.
O velho tapa-buracos se manteve; as calçadas seguem como armadilhas; o hospital ficou pronto, mas não entrou em operação; o PA trocou de gestores como se troca de camiseta no verão.
Na Tribuna da Câmara, o vereador Jonas Xavier disse que o Sperotto havia pego a coroa do pior prefeito da história de Guaíba, o João Collares. Sobre esta declaração, duas coisas: o Jonas foi secretário do Governo Collares e o Orçamento, na época em questão, era de R$ 17 milhões; hoje, passa dos R$ 250 milhões, e a população cresceu pouca coisa.
Não vou comparar governos como fez o Jonas, mas, na minha opinião, o Governo Sperotto nestes dois primeiros anos andou em círculos. Até o baixinho cambota murchou.
Sim, teve ecopontos, Beira “limpa” e rotatória como destaques positivos, mas é pouco considerando o carteiraço do arquiteto e urbanista.
Autocrítica e Dois Anos
José Sperotto tem dois anos para se livrar do cacoete de deputado e assumir integralmente o Executivo, colocando em prática o que prometeu na campanha eleitoral. Tem dois anos pela frente, o Sperotto, para tentar mudar o quadro rabiscado da Aldeia, no entanto, isso vai depender da autocrítica que o prefeito fizer agora. Se continuar acreditando que está tudo bem, corre o risco de acabar como o Frentão lá nos anos de 1980.
Arilene Pressionado
O vereador Arilene Pereira (PTB) tomou posse como presidente da Câmara Municipal de Guaíba, em ato reservado no Gabinete da Presidência, na tarde de sexta-feira, 28 de dezembro. É a terceira vez que o veterano vereador assume a presidência da Casa. Ele foi eleito numa disputa acirrada, o que indica que vai ter de usar toda a sua experiência para conduzir os trabalhos.
Está sendo pressionado uma barbaridade para recontratar os 17 CCs exonerados em dezembro. A medida evitou que o Legislativo ultrapassasse o limite legal de gastos com salários.
Essa semana, o Vereador Arilene me disse que está analisando, com cautela, a necessidade das contratações. Ele afirmou que não assumiu compromisso para a recontratação em massa e ressaltou que, no dia 23, haverá julgamento do TCE sobre a constitucionalidade dos cargos de assessores parlamentares da Câmara. “Não vou contratar e depois ter de demitir”, avaliou. O frisson nos bastidores é grande pela recontratação. Vamos acompanhar.
Novos Governos
O Brasil e o RS estão com novos governos, que prometem austeridade e mudanças necessárias, aguardadas pelo povo, de acordo com os resultados das urnas.
Acompanhei o discurso de posse do ministro da Economia, Paulo Guedes, na tarde de quarta-feira, 2. Foi um discurso do tipo diagnóstico, com receita para o tratamento da doença.
O novo ministro apontou três pilares na sua proposta de trabalho: Reforma da Previdência, Privatizações e Simplificação de Impostos. Segundo ele, com isso será possível reduzir os gastos públicos e fazer o pacto federativo dentro de uma reforma de Estado, resultando na descentralização dos recursos que hoje se concentram em Brasília. Destacou que essa missão de tornar o Estado Brasileiro eficiente precisa contar com a união dos três poderes e da Imprensa.
Paulo Guedes discursou sem ler, falou de forma clara e com a convicção de que tem a receita para a prosperidade. Se a metade do seu discurso funcionar, vamos avançar. Contudo, precisa alinhar seu discurso com as declarações do Presidente Bolsonaro.
Como não cozinho na primeira fervura, prefiro aguardar para ver o discurso na prática antes de me empolgar.
Populismo de esquerda ou de direita é sempre populismo, e é disso que precisamos nos livrar antes de tudo.
Leandro André
Publicado em 05/1/2019.
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