Gazeta Centro-Sul
Terça-feira, 23 de abril de 2024
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12/01/2015 - 10h09min
Leandro André
O Clichê Errado
No final da década de 1980, eu percebi que muitos moradores de Guaíba diziam com orgulho que “aqui (na Cidade) nada dá certo”. Isso era dito como se fosse demonstração de sabedoria e superioridade. – Pô, o cara sabe avacalhar a cidade! Era um comentário frequente. Eu nunca aceitei esse orgulho invertido, me incomodava e me incomoda ainda, pois vivendo e trabalhando na Cidade não posso fazer coro com este clichê imbecil.
Na verdade, uma cidade nada mais é do que o conjunto das pessoas que vivem nela. Então, se nada dá certo é porque seus moradores não dão certo. Ou será que os prédios e as ruas são os culpados pelos fracassos?
É preciso criticar, se informar, cobrar ação dos agentes públicos, exigir punição para os corruptos, enfim, exercer a cidadania com gana, mas isso é bem diferente de ter orgulho de ser ruim em rede.
Em 1991, como diretor Cultural do Clube Itapuí, ajudei a realizar um seminário com duração de três dias, denominado “Repensando Guaíba”. No evento, bastante prestigiado pela sociedade, refletimos sobre este clichê de que aqui nada dá certo. Foi um choque na época e, acreditem se quiserem, o tal orgulho de ser ruim foi reduzido de maneira significativa; em parte, substituído pela busca de estratégias de desenvolvimento. Penso que está na hora de realizarmos o “Repensando Guaíba 2”.
A Causa da Indignação
Está sendo forte a repercussão contra a aprovação do projeto que reajusta os percentuais do IPTU em Guaíba. A causa principal dessa indignação está na precariedade dos serviços públicos. Ninguém aguenta mais pagar tanto imposto e receber tão pouco em troca. Isso acontece no Brasil inteiro.
No caso de Guaíba, o sujeito mora em uma rua sem pavimentação e rodeado de lixo. Então vem a notícia do aumento do imposto e ele surta. E não adianta explicar que a planta de valores genéricos estava desatualizada há 25 anos. Não adianta dizer que ele pagava imposto por um terreno que já tem casa e puxadinho. Não adianta falar que foram realizadas 17 audiências públicas para explicar o estudo feito, porque isso o irrita mais ainda.
O prefeito explica que, com mais dinheiro, vai poder melhorar os serviços e tal. E o contribuinte lembra dos anos de promessas não cumpridas e espuma de raiva.
E para complicar a vida do prefeito e dos vereadores que votaram a favor do projeto, eis que surge uma oposição que toma corpo a cada semana. A distribuição de cargos falhou em algum momento, funcionando como um fermento oposicionista. E, como sabemos, oposição bota lenha na fogueira, bota o dedo na ferida, mostra e amplia as falhas governistas. Isso para um Executivo faceiro, dono da caminhada, é uma pedra no sapato.
Para finalizar esta questão do IPTU, eu ratifico que foi feito o que precisava ser feito, pois tínhamos proprietários de casas simples pagando bem mais IPTU do que donos de mansões na mesma rua. As distorções são grandes e injustas na Aldeia. No entanto, o que ofusca este entendimento é o estado da cidade. No Centro, está razoável, em que pese o asfalto baleado das ruas, mas nos bairros a cobra está fumando.
Oposição na Aldeia
O prefeito Henrique Tavares pensa que o PROS é um partido aliado, mas na verdade é oposição. A estratégia do Pedro Filho falhou. O vereador Jonas Xavier sempre foi oposição do atual Governo. É o mais forte e experiente opositor infiltrado numa bancada fantasiada de aliada.
Além disso, os vereadores André Barbosa e Miguel Crizel, do Solidariedade, ganharam dois parceiros fortes: o Xandão (PT), que desceu do muro e assumiu seu lado oposicionista feito o Superman da Cohab, e o Manoel Eletricista (PPS), que passou de humildezinho guiado pelo Caio Larréa para um grandão da periferia. O Manoel está falando grosso nas questões de ordem e contratando carro de som para publicar as teses do Jonas. A oposição está tomando corpo.
Eu sempre digo que oposição é importante para fortalecer a democracia, pois quando um governo se acomoda na zona de conforto a população sai perdendo.
Sobre a limpeza da cidade
Um bom prefeito, comprometido de verdade com a sua comunidade, fica incomodado com a cidade suja. Ele acorda suando na madrugada; tem pesadelo com a montanha de lixo chegando cada vez mais perto.
Um prefeito que ama a sua cidade, contrata empresas eficientes para a limpeza urbana e exige um serviço de qualidade. Ele não aceita desculpas, bate na mesa e xinga o diretor. Ele investe no meio ambiente como prioridade e nomeia um secretário também comprometido, mais do que isso, que fiscalize o trabalho de rua, que entenda do tema.
Um secretário do meio ambiente não pode ser bonzinho, compreensivo com os problemas. Ele tem de ser duro com quem suja e com quem não limpa; ele só sossega quando os logradouros estão limpos, pois ele sabe que essa é a sua missão. Ele tem de ser um Capitão Nascimento Verde e dizer todos os dias: - “Missão dada é missão cumprida!”, pois ele compreende que limpeza é sinônimo de qualidade de vida. Secretário que cumpre cota partidária não serve para o meio ambiente e um prefeito comprometido com a sua cidade sabe disso.
Com os contratos milionários que foram firmados entre a Prefeitura de Guaíba e as empresas Pioneira e Sanetran (ver matéria nesta edição), a imundície terá de sumir das ruas.
Liberdade
Por desconhecerem a importância de ser livre, terroristas podem fazer estragos, mas jamais vão conseguir vencer a liberdade.
Leandro André
Publicado em 10/1/15.
