Gazeta Centro-Sul
Quarta-feira, 24 de abril de 2024
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23/11/2020 - 10h09min
Daniel Andriotti
Voto e Bola
O título acima trata de duas coisas que brasileiro pensa que conhece.
Primeiro a política: algumas percepções de quem não é um especialista no assunto e muito menos em campanhas eleitorais:
1. Lula e Bolsonaro são péssimos cabos eleitorais. Os candidatos dos seus respectivos partidos, em sua maioria, tomaram uma “lavada” e foram massacrados pelas urnas no país inteiro;
2. O PSOL é o novo protagonista da esquerda brasileira;
3. Evoluímos enquanto cidadãos – e aqui me refiro especificamente a candidatos, cabos eleitorais, correligionários e simpatizantes – que na eleição do último domingo foram discretos ao jogar materiais de campanha pelo chão das ruas próximas às zonas eleitorais. Ainda não foi aquela ‘postura dos sonhos’ porque alguns santinhos acabaram espalhados pelas calçadas e que, por consequência, irão entupir as bocas de lobo na próxima chuvarada. A minha dúvida é: santinhos jogados nas calçadas trata-se de um ato absurdo de descarte de sobra de campanha ou alguém realmente acredita que o eleitor indeciso vai juntar o papel do chão e usá-lo como “colinha” na hora de votar? Seja qual for a opção, a conta da relação custo versus benefício, não fecha...
Agora o futebol: sou de um tempo em que a camisa 10 era vestida por poucos e para chegar à seleção brasileira o jogador precisava ter uma qualidade muito acima da média. A pressão de patrocinadores tinha pouco ou quase nenhum poder de decisão em convocações e a interferência de empresários junto à CBF era discreta. De um tempo para cá, tudo mudou. E não por acaso o Brasil desconhece o que é ganhar uma Copa do Mundo desde 2002 – 18 anos. Tiago Galhardo, por exemplo: rodou pelo Madureira, Red Bull, Coritiba, Ponte Preta, Albirex Niigata (Japão), Vasco, entre outros. Sempre foi um jogador mediano e agora está no mediano time do Internacional. Na última convocação, foi chamado por Tite...!!! Não entrou no jogo, é verdade. Mas teve seu nome escrito na história da seleção e isso faz toda a diferença no currículo. Do atleta, do time em que ele joga, do mercado da bola, do empresário, do patrocinador do material esportivo...
Tenho assistido alguns jogos do Brasil pelas eliminatórias da Copa de 2022 no Catar (digo ‘alguns’ porque nem isso mais é possível: muito deles simplesmente não tem transmissão pela TV, nem aberta, nem paga). E então, devo confessar que vejo jogadores que nem sabia que existiam vestindo a antológica camiseta ‘canarinho’. Talvez a culpa disso seja a minha própria falta de tempo (e de paciência) para assistir jogos dos campeonatos europeus. E então, ali, vestindo a camisa que já foi de Pelé, Garrincha, Rivelino, Zico, Falcão..., estão atletas que eu nunca tinha ouvido falar. Nem imagino em que time jogam por esse mundo afora. Quem são, por exemplo, Renan Lodi, Bruno Guimarães, Douglas Luiz???...
E o Inter? O Inter é a cara de quem o dirige. Marcelo Medeiros – que nos próximos dias deixa a presidência do clube – tirou o Inter da segunda divisão, é verdade. E todos os seus méritos param por aqui. E até nisso não foi protagonista pois nem a série B conseguiu ganhar. Não conquistou sequer um Campeonato Gaúcho. Foi eliminado de todos os mata-matas que disputou. Perdeu a decisão de uma Copa do Brasil em casa. Está há 11 jogos sem vencer um Gre-Nal. Duplicou o endividamento do clube, que já não era pouco graças à participação direta na indisciplina financeira dos seus antecessores. Investiu errado em contratações sórdidas e ordinárias de jogadores desprezíveis e sem a menor qualificação.
O Inter está doente. No campo, na gestão e no seu modo de fazer política interna.
Daniel Andriotti
Publicado em 20/11/20.
