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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

09/11/2020 - 09h36min

Daniel Andriotti

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Rei de Meia Coroa

Pelé foi ímpar. O jogador que colocou um acento agudo na camisa 10 e mudou o rumo do próprio esporte. Em campo, não era apenas “um” jogador de futebol. Foi o melhor que a história pode registrar. O único que conseguiu marcar mais de 1.200 gols como profissional e vencer três Copas do Mundo vestindo a cobiçada e imortal camiseta ‘canarinho’ da Seleção Brasileira. Em toda a sua carreira, jogou em apenas dois clubes: um deles, o Santos, onde esteve por 18 anos e foi seis vezes campeão brasileiro; duas vezes campeão da Libertadores; ganhou dez vezes o campeonato Paulista, além de uma Recopa e três títulos do Torneio Rio-São Paulo. Em seu outro time, o Cosmos, ficou por dois anos e ganhou uma North American Soccer League.

O parágrafo acima bastaria para identificá-lo como o Atleta do Século que merecidamente foi. Muito próximo da perfeição nos parâmetros físico, técnico e tático. Confesso que só vi Pelé jogar por videoteipes. Na Copa de 70 eu tinha três anos. Lembro muito vagamente da vibração da família, do foguetório do qual eu tinha medo e da música “Noventa Milhões em Ação / Prá frente Brasil / Salve a Seleção...” Há quem diga que Pelé ‘apanhava’ muito dos seus adversários dentro de campo, mas que também sabia devolver as ‘chegadas’ mais fortes com uma sutileza quase imperceptível pelas arbitragens.


Daqui para a frente é preciso separar o Edson do Pelé. Fora de campo, o rei – que completou 80 anos na semana passada – não teria sido um camisa 10 digno. Casou-se três vezes e teve sete filhos. Até aqui, nenhum problema. Dois dos seus filhos, no entanto, ganharam notoriedade por caminhos opostos. Edinho, que também se chama Edson tal qual o pai, chegou a ser goleiro titular do Santos. Mas sua fama veio mesmo graças aos problemas com a justiça. Foi preso, inicialmente pela participação num ‘racha’ de trânsito que culminou com um homicídio culposo; e mais tarde por lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas. Tudo em associação com facções do naipe de PCC e Comando Vermelho. Times de peso... Está no regime semi aberto para cumprir 33 anos de pena.

De um relacionamento extraconjugal do rei com a estudante Anísia Machado, em 1963, nasceu Sandra Regina – mais tarde e com muito custo ‘rebatizada’ como Sandra Arantes do Nascimento. Na época, seria um escândalo assumir uma criança fora do casamento. E foi ali que Pelé enterrou a sua filha viva. Uma vez adulta, Sandra travou uma longa batalha judicial pelo reconhecimento da sua paternidade. Após o resultado positivo do exame de DNA, Pelé recorreu da sentença por absurdas 13 vezes!!! E jamais quis aproximação com a filha. Em 2005, Sandra cumpria seu mandato como vereadora na cidade de Santos quando foi acometida por um câncer, morrendo um ano depois. No leito de morte ainda implorou por uma visita do pai, que não respondeu. No enterro, o rei enviou uma coroa de flores em nome de uma das suas empresas. Questionado pelo não comparecimento ao velório da filha, disse que “não havia sentimento algum por ela”.

Sandra teve dois filhos e Pelé só viu esses netos uma única vez, em 2011. Também não quis mais contato. Um claro exemplo de como o abandono paterno é natural e banalizado no Brasil. Matou de desgosto a própria filha mas continua sendo tratado como rei por tudo o que fez dentro das quatro linhas. Lamentável, mas não surpreendente se formos analisar o recente “caso Robinho”, acusado de estupro na Itália. Por coincidência, outro jogador revelado pelo Santos...

Pelé foi sórdido. Sandra, a filha desprezada, não está mais entre nós. E Edinho, o filho ‘legítimo’ até tentou seguir a carreira do pai-ídolo, mas optou por trocar a chuteira pela tornozeleira eletrônica.



Daniel Andriotti

[email protected]

Publicado em 06/11/20.

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