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15/06/2020 - 09h14min

Daniel Andriotti

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Maldita Nova Zelândia

A erradicação do Coronavírus para a maioria dos países no mundo é um sonho distante. Para a Nova Zelândia, é uma realidade. Por isso, a inveja pode matar mais do que uma pandemia.

A Nova Zelândia fica a cerca de 2 mil quilômetros a sudeste da Austrália. Tem 4,8 milhões de habitantes ou 46 vezes menos que o Brasil e a metade do Rio Grande do Sul. De fevereiro até a semana passada, a Nova Zelândia registrou 1.154 casos de Covid-19 e 22 mortes confirmadas por essa doença. Eis o primeiro diferencial: as 22 mortes foram realmente confirmadas por Covid-19, diferentemente de outros países que conhecemos bem, onde só o Coronavírus mata desde que terminou o carnaval, há quatro meses. Voltando à Nova Zelândia: lá, apenas 0,02% da população foi infectada e, 0,0004% foi a óbito. Na última segunda feira, o país anunciou que não possui mais casos ativos e que vai retirar a maioria das restrições impostas à população, com exceção do controle das fronteiras. Então, o leitor deve estar pensando: “ah, mas numa nação pequena o controle e o tratamento são mais fáceis, certo?”. Talvez. Mas não só isso! O Pará, por exemplo, possui o mesmo número de habitantes e registra 60 vezes mais casos infectados e 170 vezes mais óbitos.

Mas por que esse país miserável tem índices dessa doença tão diferentes dos nossos? Sorte? Juízo? Primeiro: o fato de ser uma ilha faz com que seja muito difícil entrar em seu território sem ser percebido. Essa vantagem, no entanto, se perderia se o governo tivesse demorado para fechar suas portas para quem vinha de fora. Segundo: quando aconteceu a primeira morte, em 29 de março, foi decretado lockdown. Ou seja: normas rígidas de isolamento social incluindo o fechamento da maior parte das empresas, com exceção das fornecedoras de produtos e serviços essenciais.

Outro diferencial: uma decisão importante da gestão da crise foi a proatividade do governo em ir atrás dos casos e não esperar que eles chegassem até os hospitais. Nenhum desses esforços seria possível se eles não tivessem realmente engajados em testar sua população contra a Covid-19, o que permitiu entender a doença e tomar ações pontuais e eficazes. A Nova Zelândia é um dos países com o maior número de testes ‘per capita’, com 59 mil por milhão de habitantes. Isso dá cerca de 300 mil testes. Quando se observa que o país teve apenas 1.500 casos confirmados, significa que para cada diagnóstico positivo, foram realizados 200 testes. Mal comparando, no momento em que escrevo essas mal traçadas linhas, o Brasil acumula 775 mil casos confirmados – 500 vezes mais que a Nova Zelândia – e os dados oficiais mais recentes apontam que o país realizou apenas 1 milhão de testes. Os neozelandeses testaram 6% do total da sua população, enquanto que nós testamos 0,4%. Mais do que testar muito, eles foram eficazes no processamento das amostras. Em quase 40% dos casos, quase a metade portanto, a notificação do resultado saiu no mesmo dia. Após dois dias, todos estavam notificados.

Você sabe porque a Nova Zelândia consegue tudo isso? Porque eles entenderam a real necessidade de uma mudança de atitude na sociedade. Porque o índice de corrupção deles é quase zero. Porque lá, quando surge uma pandemia, não há esquerda, direita, centrão, STF, Congresso Nacional e Senado olhando para o próprio umbigo e totalmente virado de costas para os problemas reais. Lá não tem milícia. Lá a maioria das empresas está disposta a utilizar seus lucros retidos para pagar salários e não demitir ninguém. Lá, o líder da maior congregação religiosa fora da igreja católica não atribui a ‘peste’ como obra de Satanás. E principalmente porque lá, o caos não foi tratado como uma saída para atender interesses políticos e econômicos. E tudo isso com a conta enviada... você sabe para quem.

Daniel Andriotti

[email protected]
Publicado em 12/6/20

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