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Quinta-feira, 28 de mar�o de 2024

01/11/2019 - 14h47min

Daniel Andriotti

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Nada é por acaso

Definitivamente meu gosto musical estacionou na década de 90. Sim, estou ficando velho. Me dou conta disso a cada vez que ‘tento’ assistir – pela TV – grandes festivais de rock, pop e música eletrônica como Lollapalooza e Rock’n Rio, que prezam por uma programação eclética, que contempla do pop mais adolescente ao heavy metal. Eu tento assistir porque como se não bastasse eu desconhecer 90% das bandas, rappers e DJ’s que neles se apresentam, fico perplexo ao ver multidões de jovens brasileiros cantando todas as letras das músicas – em inglês.

Penso que nos últimos dez anos, o entretenimento musical de massa tem feito desse "ecletismo" a sua bandeira. Festivais divididos por gêneros musicais são preteridos em favor de programações que tentam abarcar todas as ‘tribos’. Não estou falando de pequenos festivais dedicados a gêneros específicos, que felizmente continuam a existir por aí, mas de eventos grandes e corporativos como Coachella e Bonnaroo, por exemplo, que começaram como shows independentes e dedicados a um tipo específico de música, mas foram comprados por empresas gigantes de entretenimento. O que se vê nesses grandes festivais é o crescimento de um tipo de público que não liga para rótulos ou gêneros musicais, mas que gosta de qualquer coisa que ‘bombe’ no Spotify e Youtube. Isso não é uma crítica ao público, mas uma constatação. Ninguém é obrigado a entender de música e todo mundo tem o direito de ir ao show que preferir. No Rock in Rio, tem fã que ‘pira’ com “Enter Sandman”, do Metallica, na mesma ‘vibe’ que pira com a “Poeira...”, da Ivete Sangalo.

Já o Lollapalooza é um evento com público mais jovem e, por isso, mais ortodoxo. No entanto o mesmo fenômeno é perceptível. Não estou falando daqueles fanáticos que ficam colados na grade empunhando cartazes de seus artistas preferidos, mas da maioria silenciosa, que fica no fundão, conhece uma ou duas músicas de cada artista e anda pelo festival vendo shows dos mais diversos....

Isso é bom? Para o festival, certamente. Para a música, nem tanto. O que está ocorrendo é um fenômeno sem volta: cada vez mais, o público gosta daquilo que conhece e não tem o menor interesse em ouvir o que desconhece. E justiça seja feita: eu sou um desses. No Rock in Rio de 2013, por exemplo, mais da metade do público que viu John Mayer foi embora na hora do próximo show, que era de Bruce Springsteen. Ora, guardadas as devidas proporções de talento e relevância artística, Mayer e Bruce habitam a mesma seara musical: a música folk norte-americana, o country, o rock interiorano e o blues.

Acho que isso diz muito sobre o tal "ecletismo" do público. Tenho certeza que o mesmo se aplicaria ao Lollapalooza. Só que ali não há espaço para o desconhecido. Em nenhum gênero musical essa busca pela padronização do consumidor fica mais evidente do que na música eletrônica: há dez anos, algum gênio do showbiz teve a ideia de acabar com os subgêneros da dance music – electro, house, techno, dubstep, trance... – e chamar tudo de EDM (Electronic Dance Music), um nome que não diz nada, mas engloba tudo. Foi só exterminar os nichos que a música eletrônica tornou-se um fenômeno global, com festivais que rivalizam com o pop em tamanho e faturamento. E se o Lollapalooza hoje traz uma overdose de EDM é por uma única razão: a empresa dona do festival, a Live Nation, também é dona de marcas gigantes e festivais de música eletrônica, como Cream, Insomniac e Hard.

No mundo do entretenimento de massa, nada acontece por acaso


Daniel Andriotti

[email protected]

Publicado em 02/11/2019.

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