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Quarta-feira, 24 de abril de 2024

02/09/2019 - 15h43min

Daniel Andriotti

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O MLN

“A Amazônia está queimando...”. Sim, isso faz mais de 40 anos. E esse tema, nos últimos dias, ultrapassou as raias da tolerância. Minha sorte é que sigo à risca o MLN (Manual do Leitor de Notícias). Ele recomenda no seu parágrafo 1: “Sempre que você ler, assistir ou ouvir uma reportagem, tente entender o que está por trás dela”.

Por tudo o que acompanho nos principais veículos de comunicação da imprensa brasileira dos últimos dias, tenho a mais absoluta convicção que o atual governo não autorizou ou não negociou com o Congresso e com o Senado, o volume das chuvas desse período sobre a Amazônia para que tais incêndios não acontecessem. Nunca me manifestei culpando os militares, o Sarney, o Collor, o Itamar, o FHC, Lula, Dilma ou Temer pela queima e devastação da Amazônia nos últimos 40 anos. E por mais que eu não simpatize com Bolsonaro, nada me faz pensar que, agora sim, o cotidiano brasileiro passou a cometer um crime contra a humanidade.


Essa gritaria histérica – principalmente vinda da Europa (ahhhh... Europa, até parece que tu és santa!!!) – me faz refletir sobre o quanto o Brasil, um gigante do agronegócio, representa para o mundo como produtor de alimentos e commodities. O presidente francês, aliás – que não foi capaz de impedir que uma catedral centenária (outro patrimônio da humanidade) sucumbisse em chamas na capital do seu país – agora apresenta-se como um líder do movimento para salvar a Amazônia. Ele deve estar convicto que a culpa disso é do Mercosul que na sua concepção, compreende a fatia brasileira da floresta amazônica que fica entre o Rio Grande do Sul e a Argentina. Sobre o Mercosul, talvez ele não esteja tão errado...

Por falar em França e Mercosul vou aplicar o MLN: “o que há por trás da enxurrada de notícias sobre esse assunto”. A chamada social democracia europeia, hoje, não passa de um socialismo velado. Altas taxas tributárias para garantir alguns ‘serviços gratuitos’ e muitos subsídios que, se não estatizam propriedades, mantém os cidadãos absolutamente dependentes do Estado. Um desses subsídios é para a produção rural nos países integrantes do PAC (Política Agrícola Comum) do qual a França é o maior beneficiário. São cerca de 10 bilhões de euros por ano para complementar a renda dos produtores rurais. Não são raras as propriedades onde o subsídio supera o lucro, após descontados os pesadíssimos impostos. Em maio de 2018, antes das eleições brasileiras portanto, a União Europeia – que já não ia bem das pernas – começou a perder vários bilhões principalmente quando viu o Reino Unido abandonar o barco. Logo, uma das propostas para conter a sangria de euros foi cortar os tais subsídios agrícolas, proposta que a França rechaçou. É lógico.

Com a vitória do EleNão todos os tratados comerciais passaram a ser redesenhados. Assim, grande parte das decisões foram para cima da mesa de negociações que estão sendo alinhavadas entre Mercosul e União Europeia, provocando o desespero do presidente francês. Por quê? Porque se essa política comercial chegar a um acordo, combinada com a taxa cambial, os produtos do agronegócio brasileiro irão engolir a produção francesa. Ou seja: uma concorrência peso-pesado num momento de perda de receita bilionária, que provocará a escassez dos subsídios justamente no momento que a demanda tende a aumentar. A Amazônia foi a oportunidade perfeita para o presidente francês demonizar a política ambiental brasileira na intenção de salvar a sua pele. Aproveitando-se da “deixa”, a esquerda brasileira e internacional tratou de fazer aquilo mais sabe: barulho. E como dizia a ex-primeira ministra britânica e dama de ferro Margareth Thacher, “o socialismo dura até terminar o dinheiro dos outros”.

Economês internacional à parte, viramos a página para o ambientalês nacional. Passei minha vida inteira ouvindo que “a Amazônia é o pulmão do mundo”. Não é que a Amazônia seja o pulmão do mundo. A questão é que ela imobiliza bilhões de toneladas de carbono que, se lançadas à atmosfera, farão do planeta um lugar pior para se viver. Sem a Amazônia, menos água é retirada do solo e jogada no ar. Sem ela, São Paulo pode dar adeus à sua agricultura porque nosso sistema de chuvas simplesmente não vai funcionar. Assim, sobrará um deserto que avançará sobre outras áreas de produção. Isso sem falar que nela está a maior biodiversidade do planeta e que nela vivem milhões de pessoas, incluindo populações tradicionais, suas línguas e diferentes culturas. Logo, também desperta a ira do terceiro setor – como ONG’s voluntárias, generosas e sem fins lucrativos – de diferentes países.


Stanislau Ponte Preta dizia: “de onde menos se espera é que não sai nada mesmo”. Cinquenta mil colorados foram ao Beira Rio para se convencer que o Flamengo é muito mais time que o Inter. Muito mais. Viram os cariocas quase vencerem um jogo em que não precisavam ganhar. E sem fazer o menor esforço.

Odiar Odair. O trocadilho infame de quando o verbo vem antes do sujeito.



Daniel Andriotti

[email protected]

Publicado em 31/8/2019.

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