01/07/2019 - 14h12min
Desde 82, não lembro de ter torcido tanto pela seleção brasileira masculina quanto torci para a feminina no último domingo, contra a França. Ok, não adiantou. Uma pena mas, compreensível. Nossa zaga é limitada, nosso meio campo é talentoso, porém desgastado; o ataque é eficiente ‘pero no mucho’ e nossa goleira não estava bem. Aliás, nossa goleira não esteve bem nos últimos 30 anos. Ela tem 31.
Por que seleções femininas como as da França, da Alemanha e dos Estados Unidos, por exemplo, são bem superiores à nossa, que somos o ‘país do futebol’? É simples: dinheiro. Investimento – que nem precisa ser tão pesado assim – numa modalidade que até então, no Brasil, até bem pouco tempo era tratado como um esporte exclusivamente masculino.
Quando falo em ‘dinheiro’ não estou me referindo tão somente à folha salarial. Ela é um dos elos da corrente. Falo de condições e locais de treinamento, infraestrutura e, principalmente, organização e valorização das competições. Na América do Norte, o futebol masculino é emergente e o feminino é desenvolvido. Exatamente o contrário do que ocorre na América do Sul. Na Noruega, a primeira divisão do futebol feminino chama-se Toppserien. A liga é composta por 12 equipes que disputam 22 rodadas, jogando todas contra todas, turno e returno. Pontos corridos. A temporada começa em abril e termina em outubro. Futebol intenso e objetivo com times no mesmo nível. Todas as partidas têm torcida. Não importa se o jogo é em casa ou não.
Na Coreia do Sul, a cultura asiática é o grande diferencial do futebol feminino. A receita é quase a mesma: métodos de trabalho, disciplina, valorização salarial, excelente estrutura e qualidade de vida. Isso inclui transporte para os treinos, excelentes campos para treinamento, acompanhamento médico, nutricional e fisioterápico, academia, piscina...
Nos Estados Unidos, então, nem se fala: as meninas começam a jogar, em média, desde os nove anos de idade. Assim, vão recebendo treinamentos específicos e em sequência até chegarem na categoria profissional. A estrutura das equipes na NWSL (National Women’s Soccer League), a primeira divisão da liga feminina norte-americana, prioriza inclusive o suporte para atletas estrangeiras, criando grupos em cada equipe com porta-voz poliglota para ouvir as jogadoras e repassar informações à Liga sobre o que precisa ser melhorado. O calendário é igual ao europeu – cerca de sete meses – e apenas 10 equipes compõem a ‘elite’ dessa primeira divisão. O regulamento, no entanto, não é de pontos corridos.
No Brasil o clube que mais valoriza o futebol feminino é o Santos. O time, conhecido como Sereias da Vila, mantém sua equipe desde 97, mas o primeiro título só veio em 2000, quando o “Sereias” conquistou os Jogos Abertos do Interior. Entre 2009 e 2012, a equipe feminina santista foi considerada a mais forte do Brasil. Tinha no seu elenco jogadoras como Marta e Cristiane, por exemplo. Além disso e por causa disso, o clube serviu de base para a Seleção Brasileira com 11 jogadoras convocadas de uma vez só. O Sereias acabou fechando as portas em 2012 e retornou somente em 2015. O clube oferece bons salários, embora ainda distante das atletas americanas ou europeias – e amazonicamente longe dos homens brasileiros praticantes desse mesmo esporte. E, é lógico, benefícios imprescindíveis como alimentação, carteira assinada, centro de treinamento, transporte...
Em 2013, a CBF fez a primeira edição do Campeonato Brasileiro Feminino com 20 equipes e, em 2017, alterou a fórmula de disputa da competição. Criou a Série A-1 com 16 equipes e a A-2 com outras 16, estabelecendo acesso e rebaixamento.
Portanto, em relação aos países que hoje estão nas oitavas de final da Copa do Mundo de futebol feminino, o Brasil levará ainda, algum tempo, para ser competitivo em nível mundial. Nosso país é promissor na modalidade mas falta apoio, incentivo e mídia. Isso tudo se traduz em investimento. Temos quantidade e qualidade de atletas Todas com muita vontade de vencer: no campo e na vida. Mas isso, sabemos, é pouco para o topo. Infelizmente.
Daniel Andriotti
Publicado em 29/6/2019.
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