06/05/2019 - 11h38min
Quando Cabral e suas caravelas – todas à deriva – atracaram em Porto Seguro, teria comentado com um assessor enquanto olhava para a costa: “esse é um país de muitas caras”. Nisso, veio um índio na sua direção vestindo apenas um jaleco escrito nas costas: guardador autorizado. “Tá bem guardado, doutor!!!”, teria dito o indígena poliglota.
De forma ampla e irrestrita, quero falar de dois Brasi’s: um é o Brasil do governo. O Brasil político. Rico. O Brasil do terno, gravata e colarinho branco. O Brasil de Brasília. Dos carros pretos, dirigidos por motoristas que vestem ternos pretos. O Brasil dos carpetes verdes e azuis dos gabinetes ministeriais. Dos ascensoristas que de terças a quintas-feiras, recebem R$ 30 mil por mês. Esse Brasil é o cafajeste, o incompetente, o corrupto, o desleixado, fraudador, picareta, corrupto, ilícito, egoísta, traidor, dissimulado. O Brasil-governo é criminoso. É o Brasil do crime organizado amparado pelo maior cartel de leis ineficientes do mundo. É o Brasil da falcatrua. Da orgia financeira com o dinheiro que entra fácil e por isso escorre pelo ralo sem nenhum controle. É o Brasil do faz de conta. É o país onde os últimos cinco Presidentes da República estão sob suspeita, sendo um condenado; e dois extirpados do poder por impeachment. É o país onde mais da metade do Congresso está sendo investigada...
O outro Brasil é o nosso. O patriota. O da sociedade. O Brasil pobre, do mico. O Brasil que trabalha, que acorda cedo e rala muito. E que sofre nas torturas provocadas pelo seu sócio Brasil-governo. É o nosso Brasil que paga a conta de tudo. Sim, porque metade de tudo o que ganhamos vai sem dó nem piedade para o Brasil que está no palco. E que, por sua vez, não devolve absolutamente nada em troca. O nosso, é o Brasil do ônibus sujo, lotado e caro. É o Brasil da fila que não anda. Da obra pública que custou 10 vezes mais do que o seu custo real, já está paga mas nem sequer foi iniciada. O nosso é o Brasil do esgoto a céu aberto. Do hospital sem maca, com doentes demais e médicos de menos. Da escola sem giz, sem merenda, mas com um professor voluntário: esforçado, desmotivado e com salário parcelado. Assim como voluntários são os nossos policiais. O Brasil-chinelo é o do bandido impune – classificado pela esquerdopatia cínica como um ‘excluído pelo sistema capitalista e opressor’ – que atira à queima roupa na vítima que demorou meio segundo para lhe alcançar um celular, um boné, um tênis...
Duro é saber que o Brasil imaginário – que é bem menor que o outro – está vencendo a queda de braço contra o Brasil real: tem soda cáustica no leite. Celular sem sinal e rede 4G que não funciona, mas é a mais cara do mundo. Tem medicamento genérico sem controle de qualidade, bomba de gasolina fraudada, cartão de crédito clonado...
E agora, aquela velha utopia que poderia nos guiar atrás de um Brasil melhor e verdadeiro está brincando de cabo de guerra: estamos nos acusando de imbecis, uns aos outros, pelo simples fato de que não gostamos dos mesmos bandidos, apelidados de corruptos pelo modelo hipócrita do “politicamente correto!!!”. O seu bandido tem que ser preso. O meu não...
Publicado em 14/4/2018
Daniel Andriotti
Publicado em 04/5/2019.
Institucional | Links | Assine | Anuncie | Fale Conosco
Copyright © 2024 Gazeta Centro-Sul - Todos os direitos reservados