15/04/2019 - 15h07min
Outro dia estávamos num grupo de amigos conversando sobre amenidades, quando alguém disse: “vocês viram que o horário de verão vai acabar?”. Comentei por alto: “que pena!”. E falei porque eu realmente gosto do horário de verão. E então, começou a ladainha-vício do povo brasileiro. Um dos convivas não perdeu a ‘deixa’:
- Viu só? Isso é coisa do ‘teu’ presidente...
Já escrevi trocentas vezes sobre isso, mas vamos de novo. Não custa tentar. A desinteligência humana sempre se reinventa. Houve uma época em que “esquerda” e “direita” eram denominações apropriadas e nada imprecisas para diferenças ideológicas. Difícil assim. E ponto. Mas hoje tudo mudou. E para pior. Se, no Brasil, alguém fala mal da esquerda, do socialismo ou do Lula é porque esse alguém é conservador, fascista e eleitor do Bolsonaro. Se outro falar mal da direita, do liberalismo ou dos militares, é esquerdocínico, comuno-socialista e subversivo. Tudo vira mi-mi-mi. Tudo é polarizado. Tudo é ‘grenalização’. Tudo tem cunho ideológico. É o azul e o rosa, é o Lula preso sem provas, é o hino nacional nas escolas, é quem matou Marielle?, é a comemoração do 31 de março...
Nos últimos anos, alguns termos dominaram a cena política no Brasil. Muitos deles, chulos. E a rede social assumiu um papel nefastamente poderoso diante disso. Dependendo da posição que cada pessoa assume diante de um determinado fato político e social, logo é “rotulada” na testa: esquerdopata, fascista, coxinha, petralha. A rotulação ajuda a empobrecer o debate, o diálogo e, na maioria das vezes, estimula a violência política. É uma guerra semântica, vazia. A do “nós” contra “eles”.
Fui ler mais um pouco mais sobre essas dualidades e descobri então que eu sou um libertário (palavra que até então, eu só lembrava de uma citação na música “Joquim”, do Vitor Ramil). Como o próprio nome diz, libertarianismo é uma ideologia política que tem a liberdade como seu principal valor e objetivo político. Para os libertários, a missão da política deve ser maximizar a autonomia e a liberdade de escolha, não sendo função do Estado promover a ordem ou a igualdade, embora reconheçam a necessidade da existência de um Estado para exercer um mínimo de funções, como estabelecer e executar um conjunto mínimo de leis, proteger a vida e a propriedade. No entanto, é importante entender que o libertarianismo – assim como a anarquia – é uma ideologia que existe tanto na direita quanto na esquerda. Por isso, o termo acaba sendo usado como uma expressão guarda-chuva para inúmeras filosofias políticas.
E é assim que tem que ser. Caso contrário, relações de antigas amizades se destroem e famílias se afastam. E isso, é profundamente lamentável.
Daniel Andriotti
Publicado em 13/4/2019.
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