18/12/2017 - 13h43min
Época de Natal também rima com o fatídico ‘politicamente correto’. Juntos, fazem vítimas. Num 1º de dezembro, o gerente de RH de uma empresa emite um comunicado para todos os funcionários:
“Nossa festa de Natal será no dia 23, com início ao meio-dia na Churrascaria Grill House. O bar terá diversas opções de bebidas, contratamos uma banda para tocar músicas natalinas ao vivo e, quem quiser, poderá cantar junto com o grupo. A árvore de Natal terá suas luzes acesas às 13 horas. A troca de presentes do amigo-secreto poderá ser feita a qualquer momento e ficou combinado que nenhum presente deverá custar mais do que R$ 20 reais a fim de contentar a todos os bolsos. Boas festas a todos”.
No dia seguinte, o gerente emite uma errata:
“Não foi minha intenção, no memorando anterior, excluir nossos funcionários judeus. Reconhecemos que o Chanukah é um feriado importante e que coincide com o Natal. A mesma política se aplica a todos os outros funcionários que não são cristãos e também àqueles que celebram o dia da Reconciliação. Portanto, não haverá árvore de Natal, muito menos bandas e cantorias. Felizes agora??? Boas festas a todos”
No dia 3 de dezembro, sai uma nova retificação:
“Com relação à nota que recebi de um infeliz membro do Alcoólicos Anônimos – e que evidentemente não assinou embaixo – solicitando uma mesa para pessoas que não bebem álcool eu até posso atender o pedido, mas se eu reservar uma mesa ‘exclusiva para AA’s’, vocês deixarão de ser anônimos, certo? Nenhuma troca de presentes será permitida uma vez que os ‘companheiros’ do sindicato entenderam que R$ 20 reais é muito dinheiro; e os executivos da empresa não têm a menor ideia do quê se pode comprar com os mesmos R$ 20”...
Dois dias depois, sai um novo comunicado:
“Eu não imaginava que 23 de dezembro é o dia de início do mês sagrado do Ramadã para os muçulmanos e eu não tenho mesmo obrigação de saber isso. No entanto, descobri que a data os proíbe de comer e beber antes do sol se pôr. Vou conversar com o pessoal da churrascaria para ver se eles concordam em ‘segurar’ toda a comida até o início da noite. Ou quem sabe, embalar em marmitas para vocês levarem para casa. Estão satisfeitos??? Pode ser assim??? Outra coisa: convenci a turma do ‘Vigilantes do Peso’ a se manter bem longe do bufê para que ninguém sinta-se constrangido. Por outro lado, mulheres grávidas sentarão próximo dos banheiros e o cardápio terá comida com baixa caloria para aqueles que estão em dieta. Pessoas com pressão alta devem provar o sal antes de ingerir qualquer alimento e haverá frutas frescas como sobremesa para os diabéticos. Esqueci de alguma coisa?”
Dia 8 de dezembro:
“Saibam todos que trabalham nessa empresa amaldiçoada que, sim, seus imbecis, a festa será na churrascaria Grill House e quem for vegetariano que se dane. Fiquem o mais longe possível da ‘churrasqueira da morte’, expressão que vocês mesmos criaram. Não deveria, mas vai haver uma mesa de saladas incluindo tomates hidropônicos cultivados por japoneses neuróticos e aquele arrozinho grudento com gosto de nada para vocês comerem com pauzinhos. Quem, eventualmente, ainda não gostar pode levantar e ir embora sem se despedir e nem olhar para trás. De estômago vazio. E espero que vocês tenham um péssimo final de ano. Idiotas”.
Dia 10 de dezembro, um novo memorando:
“Como gerente-adjunto da área de RH, tenho certeza que todos nós desejamos um pronto reestabelecimento ao nosso gerente-titular que se encontra afastado momentaneamente para tratamento de estresse numa clínica de repouso. Por esse motivo, a empresa decidiu cancelar a comemoração de final de ano e conceder folga remunerada a todos os funcionários no dia 23. Boas Festas”.
Meus amigos gremistas tiveram um ano maravilhoso: foram soberanos em todas as competições que disputaram, revelaram novos e bons atletas, ‘ressuscitaram’ outros, encheram os cofres do clube de dinheiro e a torcida de orgulho, venceram a principal competição da América Latina e estão na iminência de serem campeões do mundo pela segunda vez. Mas sempre que me encontram pela rua só sabem lamentar o fato de que o Inter não venceu a série B.
Imagino que somente um tratamento sério resolva esse tipo de fobia.
Daniel Andriotti
Publicado em 16/12/2017.
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