Gazeta Centro-Sul

Contato: (51) 3055.1764 e (51) 3055.1321  |  Redes Sociais:

Quinta-feira, 28 de mar�o de 2024

03/04/2017 - 12h33min

Daniel Andriotti

Compartilhar no Facebook

enviar email

Índio não quer apito

Sempre ouvi falar que um acidente aéreo de grandes proporções – daqueles com aeronaves comerciais e que normalmente matam centenas de pessoas – não acontece por apenas uma única falha; mas sim por uma sucessão de problemas e erros. Se você já passou da adolescência, deve lembrar de um desastre ocorrido com um Boeing da Gol, o vôo 1907 que ia de Manaus para Brasília e se chocou contra um jato executivo enquanto sobrevoava uma área indígena da região do Xingú, no Mato Grosso, matando 154 pessoas. Pois é desse, em especial, que quero falar...

Assistindo ao Fantástico de domingo passado, fiquei perplexo com uma reportagem sobre aquele fato ocorrido há 11 anos: para os índios que viviam próximo do local da queda – e os destroços do Boeing 737 estão lá até hoje num raio médio de 20 quilômetros – a terra ficou contaminada pelo querosene do avião. Além disso, o local tornou-se ‘mal assombrado’ pelos espíritos das vítimas. E isso, é um impacto sem precedentes na cultura daquela tribo. A questão se encaminhou para um acordo inédito e milionário: a Gol vai pagar aos índios, R$ 4 milhões de reais por danos materiais e religiosos.

Para quem não assistiu a reportagem entender: os índios abandonaram suas ocas na aldeia próxima ao local do acidente porque o combustível do avião contaminou a terra para o plantio e, escorreu até os cursos d’água das proximidades, contagiando os mananciais e matando os peixes. Além disso, para eles, a área do desastre virou um grande cemitério. Há que se respeitar... pero no mucho!!!

A minha vida profissional envolve algum tipo de relacionamento com comunidades indígenas. Portanto, desenvolvi um mísero grau de conhecimento das suas tradições e costumes. Os daqui são guaranis, em sua maioria; e os da reportagem do Fantástico são Caiapós. Ambos são nômades. Lembre-se disso se você ler esse texto até o final: são nômades. Dito isso, tenho um profundo respeito pela cultura daqueles que já estavam aqui quando Cabral chegou. Quanto às almas penadas que continuam embretadas na floresta perturbando os índios, eu não me permito opinar porque sou contido pela minha ignorância espiritual. Ignorância no sentido de desconhecimento. Mas os demais argumentos elaborados pelos antropólogos e que acabaram fundamentando o acordo judicial, para mim, são tendenciosos – no mínimo.

O avião da Gol deve ter decolado de Manaus com, no máximo, 15 mil litros de querosene (era a capacidade de um Boieng 737, na época). Como ainda não tinha cumprido metade do trajeto, vamos imaginar que seus tanques ainda tivessem de 10 a 12 mil litros. Sim, um avião daquele tamanho faz, em média, 0,12 km com um litro. Por isso, pare de reclamar do seu carro que é 100 vezes mais econômico. A diferença é que um avião voa a 800 km/h e leva 200 pessoas. Você, no seu carrinho, anda a 80 km/h e leva no máximo cinco indivíduos. Mas onze anos depois, todo aquele combustível continua contaminando o solo e matando os peixes, sendo que a chuva naquela região é abundante???

Se você que está lendo esse texto tem menos de 30 anos não deve ter ouvido falar no Cacique Raoni. No final da década de 80, havia um grupo de rock inglês chamado The Police, cujo líder era um cara chamado Sting, hoje meio sumido no mundo. Pois em 1989, não se sabe exatamente por qual motivo, Sting se encantou com Raoni, que andava por Brasília armado e pintado para a guerra, protestando em nome da causa indígena (Raoni, naquela época, já era um índio diferente: havia se encontrado com o Rei Lepoldo III, da Bélgica; e feito uma ‘ponta’ como figurante num filme do Marlon Brando). Também foi um dos mais ferozes opositores ao projeto da barragem de Kararaô (hoje, Belo Monte) e andou pelo mundo sem nenhum medo de embarcar em aviões. Raoni é um Caiapó. E o Sting... bom, o Sting é um músico.

Mas enfim, quem vai monitorar a aplicação dos R$ 4 milhões que a Gol vai pagar aos caiapós sem casa, comida e assombrados pelos espíritos? O Instituto Raoni e a Funai. Sim, a Funai – um dos mais desacreditados órgãos do Governo Federal de todos os tempos.

Tá explicada a minha contrariedade, cara-pálida??? Casas para os índios. Eles são nômades.

Daniel Andriotti

[email protected]

Publicado em 1º/4/17.

Últimas Notícias

Este site da Gazeta Centro-Sul s
Ler mais

Aulas Presenciais em Guaíba
Ler mais

Monumento Farroupilha
Ler mais

Publicidade

Institucional | Links | Assine | Anuncie | Fale Conosco

Copyright © 2024 Gazeta Centro-Sul - Todos os direitos reservados