29/03/2021 - 15h34min
Existe um idioma universal nesta extraordinária diversidade que caracteriza a comunicação mundo afora: os números. E se, informalmente, eles podem ser assim chamados, eu considero a porcentagem o seu “dialeto” mais popular, aquele facilitador que coloca todos nós diante da verdade quantitativa de um evento.
Vejamos, por exemplo, como se torna viável responder a pergunta sobre quantos na plateia, no final de um show, aplaudiram os músicos em pé, mesmo sem sabermos o número total de pessoas que estavam no evento. Se dissermos “cem por cento”, estaremos nos referindo a todos os presentes. Porque “cem por cento” representa o total no “dialeto” da porcentagem.
Posto isso, mais um esclarecimento ainda se faz necessário para chegarmos ao destino por mim pretendido: os números não mentem, mas, de vez em quando, acontece de serem divulgados em resposta para outra pergunta, não àquela que foi feita. Aí, o que está correto para um determinado caso torna-se equívoco.
Vejamos como têm sido apresentados os percentuais de ocupação de leitos em diversos hospitais brasileiros. Ora, se a ocupação é total, o seu respectivo percentual é de 100% (cem por cento). Não se pode ultrapassá-lo, pois se refere à totalidade de leitos. A informação deve citar que o hospital precisa ter mais 30% do total de leitos, por exemplo, nunca que a ocupação é de 130%.
Esforçando-me para não ser enfadonha, esclareço uma diferença importante: o aumento de contaminados pode aumentar em qualquer porcentagem, inclusive maiores do que 100%. Contudo, quando alguma referência é feito ao total de pessoas atingidas, essa deverá ser tratada como cem por cento.
E ainda contando com a paciência dos leitores, pois sei que o idioma numérico não é de fácil escrita, tampouco de leitura leve, devo salientar outra discordância que se faz essencial nas informações sobre a pandemia, especialmente no que se refere à vacinação. Convido a todos para me acompanharem no raciocínio a seguir.
De acordo com dados do IBGE, a população brasileira (estimada em 2020) está em aproximadamente 212 milhões. Contudo, só estão aptos “cientificamente” a receber vacina aqueles brasileiros que têm 18 anos ou mais, e eles são cerca de 161 milhões. Por isso, na minha opinião, quando é calculada a porcentagem dos já vacinados deve-se considerar essa parcela da população, não os 212 milhões nos quais está incluída a população até 17 anos - que não é alvo da vacinação.
Eu sei que a linguagem dos números, por vezes, parece complicada, mas é o único idioma universal nesta extraordinária diversidade que caracteriza a comunicação mundo afora. E, nesse contexto, considero a porcentagem um “dialeto” facilitador.
Espero que alguns detalhes na divulgação desses percentuais sejam repensados, visto que se apresentam como “gírias” no extraordinariamente belo idioma dos números.
Cristina André
Publicado em 26/3/21.
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