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27/01/2021 - 15h37min

Comportamento

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Eu sempre tinha razão

Uma amiga certa vez me contou sobre a sua dificuldade em admitir enganos cometidos. Eu lhe disse que era comportamento corriqueiro, pois errar, apesar de ser humano, é mesmo muito difícil de aceitar. Ela então me explicou que não estava se referindo aos grandes equívocos, mas daqueles pequenos erros sem consequências. Simplesmente precisava sempre ter razão para se sentir feliz, mesmo que isso lhe custasse interromper um amigável diálogo ou até mesmo criar desavença no romance.

Tentei convencê-la de que, mesmo não aparentando importância maior, este era um grande erro, o de querer ter razão acima de qualquer outra coisa. E o “fincar pé” na inutilidade nada mais faria do que afastá-la das belezas da vida. Ao passo que, ativando a capacidade de admitir os enganos, a leveza acalmaria seu coração.


Minha amiga concordou, deixando-me surpresa. Para quem precisava ter razão sempre, aquelas palavras vindas com o balançar positivo da cabeça eram auspiciosas. Me enganei.


Ao ouvir sua derradeira frase, feito uma avalanche, senti que minha esperança e meu entusiasmo tinham sido soterrados: “Cheguei a pensar, por várias vezes, em não dar início a discussões bobas, mas não consegui. Preciso estar sempre com a razão”, sentenciou. E seguiu em frente com seus relatos.


Diante daquelas colocações, nada me restou a não ser silenciar um pouco, decidi que não me submeteria a um debate exaustivo sobre a arte de saber ouvir, pois o final já era sabido, ela diria que tinha razão e ponto final. Dito e feito.


Então, quando eu estava quase desistindo daquela empreitada, uma nova ideia surgiu. Minha última cartada naquele jogo difícil seria propor uma simples escolha.


Perguntei para minha amiga se ela preferia admitir de vez em quando que estava errada ou ler em sua lápide: “Morri precocemente, porém sempre tive razão”. Não recebi resposta. Ela sorriu, enrubesceu, me elogiou, dizendo que eu tinha presença de espírito. E começou a falar sobre amenidades de concordâncias plenas e já sabidas.


Depois daquele dia, em que ouvi de uma amiga sobre a sua necessidade de estar sempre certa, comecei a levar esse comportamento mais a sério. Aprendi, pela observação, que muitas vezes é melhor abandonar certas discussões do que perder a harmonia. E que admitir um erro faz parte da própria condição humana.


Verdade seja dita, a leveza do dia a dia vale bem mais do que viver estressado apenas para ter escrito na lápide: “Eu sempre tinha razão”.



Coluna publicada em 2010.


Cristina André retorna das férias

na próxima semana.



Publicado em 22/1/21.

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