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Sábado, 20 de abril de 2024

25/01/2021 - 14h49min

Comportamento

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Nosso Mundo de Antes

Eram tempos diferentes, aqueles em que fomos estudantes do Ginásio. Havia coral e feira de ciências, aulas de artes e de boas maneiras, tema de casa todo santo dia. Redações, obedecendo a professora da língua materna, tinham início, meio e fim; os verbos jamais se separavam dos sujeitos, e os problemas de matemática não precisavam ser reais, apenas ter boa serventia cerebral.

Na hora do recreio, sentados em pedras caiadas ou nos velhos bancos de praça que se espalhavam pelo pátio da escola, conversávamos sobre trabalhos em grupo que seriam entregues, mapas traçados em moldes de papel manteiga, respostas de equações inventadas em outros séculos. Opinávamos sobre a merenda do bar, o novo uniforme com sua gravatinha terminando em metal. E outros assuntos de interesse juvenil.


Entre uma mordida e outra na fruta da época, um gomo e outro da bergamota colhida no pomar de casa, nos perguntávamos se existiriam outros planetas habitados, debatíamos sobre o lugar mais bonito do mundo a ser visitado no futuro. Dividíamos sonhos de gente inocente, queríamos descobrir o que era melhor, ser engenheira ou escritora, médico ou juiz de futebol, músico de baile ou advogado, quituteira ou jornalista, vendedora de enciclopédias ou professora.


Depois do último período, aulas findas, a volta para casa acontecia sem pressa, com prorrogação dentro de limites sempre cumpridos. Divididos em pequenos grupos, percorríamos as ruas da nossa pequena Guaíba, combinando o que fazer no domingo que se anunciava nos calendários. Se algum aniversário estivesse marcado, falávamos em presentes e horários, nas roupas usadas apenas em festas, no lustro dos sapatos.


Finalmente sentados à mesa para o almoço em família, aceitávamos tudo que era servido; se não fosse assim tão bom, sabíamos que nos faria bem, ao crescimento e à inteligência. Depois da sobremesa, nos alegravam os anúncios sobre primos que viriam de longe, a notícia de possível ida ao cinema, na Capital, para ver a história da noviça que ensinou os filhos de um viúvo turrão a cantarem e serem felizes.


Envolvidos com textos em inglês e francês, os outros dois idiomas que aprendíamos no colégio, falados em terras de reis e rainhas, de bons perfumes, moda, museus e palácios, por vezes passávamos as tardes. Escrevíamos cartas para cientistas famosos simplesmente para treinar vocabulários, ficávamos horas debruçados sobre dicionários, traduzindo versos, querendo entender as mensagens dos cantores preferidos.


Eram tempos diferentes, aqueles em que fomos estudantes do Ginásio. Tínhamos aulas de música, horas de fala e de leitura silenciosa, cuidados aos canteiros da horta, jogos de caçador e cantorias de hinos.


Havia um outro mundo dentro de nós, que fazia a vida se encher de romantismo e poesia.



Cristina André

[email protected]

Coluna publicada em 2014.

A colunista Cristina André está de férias.

Publicado em 15/1/21.

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