17/08/2020 - 10h11min
Quando penso no Pai, que perdi aos sete anos, uma imagem é recorrente. Estamos todos à mesa para o almoço; ele, sentado à cabeceira, cortando rabanetes em cruz, colocando sal e saboreando como se fosse um banquete. E das lembranças da Mãe, sem dúvida, a maioria é de almoços em família, cafés da tarde e doces com gente amiga. Porque a mesa, hoje tenho certeza disso, é o lugar onde se constroem os relacionamentos mais profundos.
Refeições compartilhadas são momentos emocionantes em nossas vidas, de grandiosa troca de amor e alegria, que se tornam pilares para tudo que o futuro possa nos reservar. Preparando e servindo quitutes para a família e os amigos verdadeiros, a vida vai se temperando com o sal das boas conversas, se adoçando de afeto.
Nestes tempos difíceis pelos quais todos estamos passando, de apreensão e insegurança, sentar à mesa para compartilhar uma refeição caseira é o único tranquilizante eficaz, dá sensação de estabilidade emocional capaz de acalmar os corações mais atordoados.
O mundo parece desacelerar quando chega à mesa a salada mista de personalidades, combinando sabores que se completam. E as porções quentinhas de afeto sincero, acompanhamento perfeito para a simplicidade agridoce de histórias antigas que apontam para o futuro. Quanto aprendizado é possível nestes momentos em que gratidão, segurança e empatia são servidas na sobremesa, seguidas de cafezinho.
São realmente difíceis, estes dias de pandemia. Sentar à mesa para compartilhar boas refeições caseiras é o melhor a fazer para enfrentá-los; tranquiliza e acalma corações.
Porque a pandemia é passageira; e a mesa, um lugar de relacionamentos profundos.
Cristina André
Publicado em 14/8/20.
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