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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

29/06/2020 - 09h46min

Comportamento

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O Mundo agora é outro, Sofia!

Um extraordinário mundo novo ressurgiu nestes cem dias de distanciamento social. Todo feito de lembranças adormecidas em gavetas e estantes de livros; em álbuns de fotografias e videocassetes; em antigos cadernos de receitas e cartões postais. Tudo guardado como relíquia do nosso museu familiar em contínua construção.

Neste movimento de me surpreender com os próprios guardados, eis que reencontro o livro comprado duas décadas atrás, a pedido do professor de Filosofia da filha. Escrito pelo norueguês Jostein Gaarder, “O Mundo de Sofia” trazia abaixo do título a seguinte linha de apoio: romance da história da filosofia.


Logo que me dei conta da beleza daquele achado, lembrei da escola em que ela estudava e daquele bom professor, um jovem seminarista negro que usava corte de cabelo geométrico, ultramoderno para a época. Os alunos adoravam suas aulas.


Levada pelas boas recordações de todo aquele contexto, decidi colocar o livro junto com os outros que estavam na fila à espera de minha leitura. Na frente de todos.


Nessa semana, comecei a ler “O Mundo de Sofia”. Estou adorando o ritmo dado pelo autor, a maneira inteligente que ele encontrou para dar excelentes aulas sem que percebamos ser simples aprendizes.


É sobre uma jovem de quase quinze anos que encontra um envelope com seu nome na caixa da correspondência da casa. Sem remetente nem selo, o que a deixa por demais curiosa. No centro da única folha, apenas uma pergunta: “Quem é você?”.


Foi o que bastou para fazê-la sair do lugar comum no qual sua adolescência a mantinha. E um turbilhão de outros questionamentos surgiram naturalmente.


Quando outro envelope chegou, com outras frases e mais uma pergunta: “Qual é a coisa mais importante da vida?”, Sofia sentiu que já não era a mesma menininha que tudo aceitava como verdade. E este é só o início das mais de quinhentas páginas que pretendo vencer em breve.


Eis que, nesta manhã de chuva, ao pegar o livro para dar seguimento à leitura, de forma inusitada me surgiram diversas questões: “E se tudo isso acontecesse nestes tempos de internet? Como aconteceria, hoje, a história da jovem Sofia?”.


Pensei, então, na reação de seus pais diante de correspondência anônima para uma mocinha. No caso, uma mensagem pelas redes sociais, sem envelopes nem folhas. Provavelmente, dariam queixa na Polícia, talvez se tratasse de algum pervertido do mundo virtual.


Claro que Sofia seria proibida de responder, teria seu notebook apreendido. Os vizinhos, em um trabalho voluntário, ficariam de campana para identificar gente estranha pelas redondezas. E o interesse dela pelas respostas daria lugar ao receio de ser atacada por estranhos habitantes da internet.


Fiquei imaginando como seria escrito, nestes dias em que vivemos, o livro comprado duas décadas atrás, a pedido do professor de Filosofia da filha. O título provavelmente seria: “O Mundo agora é outro, Sofia!”.

Cristina André

[email protected]

Publicado em 26/6/20.

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