01/06/2020 - 09h45min
Sempre fui encantada com a extraordinária beleza que reside nos pães, na sua simplicidade capaz de alimentar gente de toda parte. Com o tempo, movida pela curiosidade em relação a essa milagrosa iguaria, fui descobrindo que há muito o que aprender com o pão nosso de cada dia.
Cena das mais bonitas, gostava de ver minha mãe tirar pães do forno daquele fogão à lenha que esquentava nossos invernos. Era exatamente o que todos queríamos depois da escola, café com leite e pão quentinho, sinais concretos de que a felicidade morava lá em casa.
E assim, movida pela magia do pão e sua presença marcante nas manifestações culturais mundo afora, em cada lugar diferente que visito procuro pela preparação local. Quero experimentar novidades desse inigualável alimento, que marca presença em importantes cenas e orações religiosas; que aparece em relatos históricos, nos filmes românticos, nas merendas escolares. E nas inesquecíveis refeições com a família e os amigos.
Certa vez, em um daqueles almoços praianas sem horário para terminar, as conversas tomaram o rumo das ideologias e das religiões. O Fred e a Ana formavam um dos quatro casais em volta da mesa. E foi dele que partiu a surpreendente defesa socialista do direito universal ao pão, argumentando que o trigo nasce da terra, portanto é de todos que vivem nela. Quem tem fome e não pode pagar pelo pão deveria buscá-lo mesmo assim, arrematou com firmeza aquele idealista.
Comungamos, de imediato, um silêncio típico de quem ouve o inesperado e precisa de algum tempo extra para raciocinar. Eu e meu marido nunca mais nos esquecemos daquela filosófica refeição em que o pão tomou conta da mesa da forma ampla, geral e irrestrita. Alimentando até nossas conversas.
Muitos anos já se passaram desde os cafés na casa materna, aroma de felicidade saindo do forno de um fogão à lenha. Também foi muito tempo atrás que compartilhamos o almoço de praia que reuniu jovens casais e suas crianças. Eis que, em plena pandemia e vivendo afastamento social, estas lembranças me trouxeram uma nova e especial emoção.
Meu coração bateu mais forte, essa semana, ao saber que duas padarias, uma em Guaíba (Grão da Terra) e outra em Eldorado do Sul (Nossa Senhora Aparecida), estão colocando pacotes de pães em um cesto para quem não tem condições de comprá-los naquele momento.
Há, mesmo, muito o que aprender com o pão nosso de cada dia.
Cristina André
Publicado em 29/5/20.
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