17/05/2020 - 19h50min
Em março, a política dominava o WhatsApp. E como seria de se esperar, naqueles grupos de famílias numerosas, como a minha, com gente de diversas crenças e faixas etárias, a divergência de opiniões, que deveria ser a boa pitada de sal das conversas, começou a sinalizar que o exércitos das desavenças logo, logo, atacaria.
Com parentes e amigos vivendo em outros países, justamente naqueles que mais sofriam com a chegada do novo vírus, as notícias sobre a primeira família brasileira e seus opositores cedeu espaço para confraternizarmos os laços de sangue. Entre um pitaco político e outro, postamos fotos antigas, em bonita e emocionante reverência aos ancestrais.
Vencida a etapa desse drama, que parece um filme de ficção científica, lá fomos nós, em voo direto e sem escalas, para mais um abril. Desta vez, diferente dos outros, sem coelhos de Páscoa nem ruas enfeitadas com serragem para a procissão. E cheio de novidades preocupantes sobre a pandemia que se expandia mundo afora.
A política brasileira ainda seguia firme na pauta dos debates, reforçada pela ditadura chinesa, a cloroquina, os americanos e o primeiro ministro inglês. Porque, sejamos francos, em matéria de pronunciamentos aloprados e ações desnorteadas, o mundo anda muito bem servido.
Então, como num passe de mágica, talvez trabalho de estrategistas, a arte culinária tomou conta do grupo. Começamos, todos, a trocar receitas. Cada um preparava um quitute, fazia foto e postava no grupo. E como boa mesa é sinônimo de alegria, uma onda de felicidade apontou nas areias da nossa praia, viramos surfistas espetaculares.
Corações acomodados por pães e doces, brincadeiras sobre o ganho de peso no isolamento, passamos por mais um mês de pandemia. Vencendo pelo cansaço, com a família nos dando cobertura no campo de batalha. Sem perdermos a consciência da gravidade do momento, com a generosa leveza de que precisávamos para aguentar essa maratona.
No dia em homenagem ao trabalho e aos trabalhadores, maio deu seus primeiros passos rumo ao futuro. Outras fotos surgiram, pintando alguns dias de nostalgia; ficamos inspirados pelo dia das mães. Emoções à flor-da-pele.
Depois, seguimos fazendo brincadeiras, trocando receitas, debatendo acontecimentos relacionados com a pandemia, um pouco de tudo em ritmo mais lento. A política se apequenou diante da importância de cada vida a ser preservada.
Também postamos boa música e poesia, indicamos livros, filmes e séries cheias de romantismo - os botes salva-vidas que encontramos para gráficos e tabelas que agora dão as tintas para cada cidade.
Eis que se anuncia uma boa notícia: venceremos mais um mês de pandemia. De novo, pelo cansaço. Com a estratégica e preciosa cobertura do grupo de WhatsApp da família.
Cristina André
Publicado em 15/5/20.
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