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11/05/2020 - 08h12min

Comportamento

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Assim era a minha Mãe

Uma senhora que nos visitava, naqueles dias de infâncias antigas, ao olhar para a imagem do Cristo em um lugar de destaque na sala lá de casa, perguntou a minha mãe se ela costumava rezar ali mesmo. Todo santo dia, respondeu, com os olhos brilhando. Era assim que falava quando se referia aos seus hábitos.

Tantos anos já se passaram e ainda penso nela fazendo suas orações naquele espaço que parecia tão pequeno para tantos agradecimentos e pedidos de proteção. Foi com o seu exemplo prático que aprendi a ter fé. Hoje, sei que em minhas próprias orações também estão as dela.


Certa vez, tomávamos café naquela enorme cozinha que raramente estava sem visitas, quando a mãe, de repente, puxou assunto sobre príncipes encantados e belas princesas em seus castelos antigos, suas festas de casamento. E me falou, com a clareza necessária para a compreensão de uma romântica adolescente, que histórias de príncipes e princesas seguiriam acontecendo para sempre, mas o mundo tinha mudado, não havia mais lugar para princesas que precisassem se casar para garantir a sobrevivência.


Até hoje, quando sei de alguma união que se anuncia, lembro daquela explicação materna, do seu jeito caseiro de dizer que eu deveria estudar, ter uma boa profissão e condições de me sustentar, só depois pensar em casamento. Felicidade, me disse ela, é escolher o príncipe colocando o amor como a principal razão, jamais o interesse fútil ou a necessidade de sobrevivência.


Conversando com uma de suas irmãs, um dia vi minha mãe dando risadas ao contar sobre a geleia de goiaba perdida depois de horas no fogão à lenha. Ela quis experimentar os tais potes para ver se aguentavam tudo em qualquer temperatura, como a vendedora tinha jurado de pés juntos. E mesmo sabendo que não daria certo, decidiu arriscar, despejou o doce quente nos recipientes recém-comprados. Na mesma hora, o fundo de cada um deles, derretido, escorreu pela pia como um quadro de Salvador Dali, com geleia e tudo.


Sempre penso naquela cena da mãe dando risada quando algo não sai exatamente como eu queria. Lembro da explicação materna facilitada por um ditado recorrente em seu dia a dia: o que não tem solução, solucionado está. De nada adianta ficar reclamando, sofrendo com o que já passou, arrematava com sabedoria.


Nestes dias de pandemia e isolamento, seria muito bom voltar a conversar com minha mãe. Ela parecia ter solução para tudo. Tenho certeza de que me aconselharia a rezar todo santo dia, a não me entristecer antecipando preocupações, a preparar boas refeições para a família e jamais deixar de sorrir e ter fé.


Assim era a minha mãe.



Cristina André

[email protected]

Publicado em 08/5/20.

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