26/02/2020 - 16h12min
Meus carnavais são diferentes daquelas festas que se vê nos noticiários, de bonecos enormes subindo ladeiras com sol a pino, gigantesco galo da madrugada marcando presença, trios elétricos puxando milhares de foliões.
Não há escolas de samba, tribos e grupos de frevo passando pela minha avenida. Gosto de vê-la assim, quieta, com seus luares iluminando a vida nestes tempos de gente fantasiada tomando conta das ruas.
Em dias de folia comandada por reis momos, passistas e sambas-enredo, desfilo no bloco da sétima arte. Bala azedinha na bolsa, filmes cuidadosamente escolhidos, e lá vou eu, abrindo alas para as emoções e o aprendizado que se traduzem nas grandes telas. Eis que me transformo em porta-estandarte das histórias reais e imaginárias que me encantam.
Também são feitos de sossego e de leitura, os meus carnavais. Ao som das batidas do meu próprio coração, que é divina percussão, percorro textos que me desafiam e emocionam, mostrando verdades novas e realidades diversas com frases à espera de interpretação. Esquecida de relógios, em gesto que é imitação de grandiosa bateria, faço conveniente recuo, retornando ao parágrafo que pensava ter vencido, dando-lhe passagem com maior atenção. Depois, seguindo o ritmo do meu enredo, vou em frente até a dispersão.
Foliona da gastronomia, faço da cozinha o meu sambódromo nos quatro dias de carnaval. Avental como principal adereço, preparo quitutes deslizando com facilidade por todos os espaços, como as baianas em suas bonitas alas. Apresento, então, minha performance ao júri, que costuma tecer comentários favoráveis aos adereços e alegorias expostas sobre a mesa.
Meus carnavais são diferentes daquelas festas que se vê nos noticiários. Nestes dias de folia e fantasia, ao som do meu próprio coração, que é divina percussão, desfilo no bloco do cinema, da literatura e da gastronomia.
Cristina André
Publicado em 22/2/20.
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