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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

03/10/2019 - 16h49min

Comportamento

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Vendedores de Boas Conversas

Levávamos horas para subir a São José, eu e a Mãe, acompanhando a lentidão daqueles dias de uma Guaíba antiga em que todos se conheciam. Ao colocar os pés na calçada, eu já sabia que não seria fácil percorrer aquelas duas quadras até chegarmos à loja onde se encontrava roupas boas, que duravam uma vida inteira, e as compras ficavam anotadas no caderno. Porque as pessoas que passavam por nós não se contentavam com um simples “boa tarde, como vai?”, faziam questão de parar para conversar. Minha mãe adorava.


A criança que fui apenas esperava pela retomada do passeio de compras sem reclamar. De vez em quando, apertando de leve a mão materna, o silencioso código caseiro para pedir que seguíssemos em frente.

Já adolescente, antes de sair de casa, eu reivindicava que não parássemos tanto no caminho, que eu deveria voltar logo, precisava passar a limpo uma redação para entregar no outro dia. Pedia para a mãe que desse apenas “boa tarde” para as pessoas, sem completar com aquele “como vai?” que todas respondiam com detalhes.


De nada adiantava a minha rebeldia caseira, tudo seguia como antes. Minha mãe argumentava sobre a impossibilidade de passar por uma pessoa amiga como se fosse desconhecida, seria falta imperdoável não parar para conversar um pouco, dando-lhe atenção.

Vida acontecendo, me fiz adulta em uma nova Guaíba, de bairros surgindo, calçadas e ruas centrais se agitando de gente e de carros. Formando nova família, com a profissão em fase de se estabelecer a pleno, os dias começavam a me exigir um andar com passos mais acelerados, até mesmo ao lado da mãe quando íamos fazer compras. Mas continuamos levando horas para subir a São José e vencer aquelas duas quadras até chegarmos à loja onde ainda se encontrava roupas boas, que duravam uma vida inteira, e as compras ficavam anotadas no caderno. Porque minha mãe continuava a mesma, fazia questão de parar para conversar com as pessoas.

Eis que me descubro com o DNA do gosto pelas boas conversas, herança materna. Não consigo ficar ao lado de uma pessoa sem conversar um pouco, seja na fila do supermercado ou do teatro, no estádio de futebol ou no consultório do dentista; seja na Oxford Street ou na São José. Porque é falta imperdoável não dar atenção para as pessoas.

E nestes dias de descobrir novas formas de trabalho que atendam as necessidades do moderníssimo mercado, com o mundo em veloz transformação, em que falamos uns com os outros por meio de máquinas, cheguei à conclusão de que precisaremos, em breve, de vendedores de boas conversas.

Cristina André

[email protected]

Publicado em 28/9/2019.

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