17/06/2019 - 14h12min
Um vaivém de novidades e modismos, assim é esse novo mundo. Não é mais aquele mundo velho e sem porteiras, como diziam os antigos moradores da zona rural destes pagos.
Acredite quem quiser, houve um tempo em que ler fábulas na infância era motivo de grandes elogios por parte de professores e intelectuais. Crianças recém-alfabetizadas que reforçavam o aprendizado das letras com escritos de La Fontaine, Esopo e Andersen estavam no caminho certo.
Não é mais assim. Histórias como “A Cigarra e a Formiga”, em que a cigarra passava o verão todo tocando, despreocupada, enquanto a formiga trabalhava para garantir sua subsistência no inverno, são criticadas pelo fato de terem a “moral da história” no final. Leituras mais ousadas são defendidas, para que os minileitores tirem suas conclusões sem interferência.
Já vivemos dias de pequenos estudantes precisarem saber tabuada. Naquele outro modelo de escola, nada havia de errado em facilitar a resolução de problemas reais e imaginários. Voz corrente nos corredores, quem aprendesse bem regra de três e porcentagem estaria com meio caminho andado na estrada da matemática, que não se apresentava como brincadeira de criança.
Hoje é diferente. A parte que cabia aprender para exercitar o cérebro teve que se transformar apenas em diversão, em jogos e brincadeiras igualmente impostos. E a academia de neurônios precisou fechar as portas e mandar toda a criançada para o parquinho na hora da aula. Elas, por sua vez, talvez tenham começado a se cansar de brincar de escola ao invés de aprender a prestar atenção em quem tem o que ensinar.
Também se decorava guias ortográficos, interpretava-se textos e era preciso saber conjunções para escrever frases que fizessem sentido. Muita leitura era exigida pelos mestres da língua materna; em textos de José de Alencar, poesias de Drumond e Fernando Pessoa, preparava-se o ingresso na modernidade do conhecimento.
Tudo isso mudou. Neste novo mundo em que verdades são escolhidas ao bel prazer de cada um, perdeu-se a importância de prestar atenção no conhecimento de quem ensina; ninguém mais pode assumir esse papel, o de ensinar crianças que ainda se encantam ao aprender.
Transformou-se em um vaivém de novidades e modismos o nosso mundo. Acredite quem quiser, houve um tempo em que ler fábulas e poesias, saber tabuada e regra de três, eram considerados aprendizados essenciais.
Mas o mundo agora é outro. Histórias como “A Cigarra e a Formiga” são criticadas, a tabuada e a interpretação de textos viraram bichos-papões. Das antigas aulas que exigiam atenção, respeito e disciplina, verdadeiras academias de neurônios, poucas restaram.
A preparação para o universo adulto, hoje, é feita de diversão solitária e sem compromisso, do vaivém de interesses sem conteúdo, da ideia de felicidade individual, permanente e fácil.
E a conexão com a vida real vai se perdendo, se perdendo, se perdendo...
Cristina André
Publicado em 15/6/2019.
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