27/05/2019 - 14h13min
Artistas e suas obras não pertencem apenas ao espaço que ocupam enquanto andam pela vida e são vistos a olhos nus por gente como nós, simples mortais. Nem fazem parte somente de um determinado período que foi medido a partir de antigas e curiosas invenções como relógios e calendários. Eles habitam o universo quântico, com sua intrigante atemporalidade.
Foi nisso que pensei a caminho do show de Benito Di Paula, no último sábado. Em cada um desses compositores, cantores e músicos que embalam as dores e as belezas do mundo com suas melodias e poesias, seus acordes e vozes. Permitindo-nos, por meio das canções, a magia de certos momentos passageiros se tornarem permanentes.
Lembrei de alguns sucessos daquele artista brasileiro que logo estaria ao piano, pequeno na estatura, enorme no talento musical, e fui cantarolando Retalhos de Cetim até chegar ao teatro.
“Ensaiei meu samba o ano inteiro, comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia, era só o que eu queria, e ela jurou desfilar pra mim.
Minha escola estava tão bonita, era tudo o
que eu queria ver.
Em retalhos de cetim, eu dormi o ano inteiro,
e ela jurou desfilar pra mim.
Mas chegou o carnaval, e ela não desfilou.
Eu chorei, na avenida, eu chorei.
Não pensei que mentia a cabrocha que eu tanto amei.”
No decorrer do show, percebi que o artista, com seus 78 anos, estava muito emocionado. E avesso ao cumprimento das regras da apresentação. Em dado momento, chamou seu filho ao palco e os dois tocaram e cantaram juntos; depois, passou a batuta do espetáculo a ele, saindo de cena. E o filho do peixe mostrou que peixinho é, como era de se esperar.
De volta à cena, Benito Di Paula foi acompanhado pelas vozes da plateia desde os primeiros acordes de cada composição. E mesmo atravessando o , insistindo em conversar mais do que se esperava, reinventando ritmos, foi sempre aplaudido efusivamente. Bonita homenagem ao músico, compositor e cantor por seus importantes feitos em prol da Música Popular Brasileira e dos nossos românticos corações.
Saí do show pensando nos artistas e suas obras, na capacidade que têm de permanecerem em nós vida afora. Acredito que habitam o universo quântico, com sua intrigante atemporalidade; são os senhores do “eterno agora”, nova teoria científica que está abalando alicerces de quem gosta de medir e segregar períodos de tempo e seus habitantes.
Exercitando o “eterno agora”, levantei e soltei a voz. Que honra estar entre as centenas de backing vocals do Benito Di Paula quando ele cantou Retalhos de Cetim.
Cristina André
Publicado em 25/5/2019.
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