Gazeta Centro-Sul
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26/02/2019 - 09h42min
Comportamento
Museu do Papel e Escola de Música
Meu primo Décio Andriotti, que faleceu em 2018, em um hospital de Milão (Norte da Itália), costumava vir a Guaíba toda semana para almoçar conosco. Durante anos, estes encontros familiares aconteceram na casa onde morava minha mãe, que ele carinhosamente chamava de Tia Wanda, em um dos casarões da Avenida João Pessoa – Beira. Depois, passaram a acontecer na minha casa.
Sempre gostamos muito de conversar com o Primo Décio. Professor de História, Filosofia e Matemática, cidadão do mundo e amante da boa música, dava importante contribuição cultural em todos os assuntos, prolongando-os no momento da sobremesa com o cafezinho, que ele adorava.
Cerca de um ano antes de seu falecimento, em um desses longos e proveitosos bate-papos com doces caseiros, ele nos surpreendeu com um pedido especial: queria que eu fizesse um projeto cultural para os casarões e que apresentássemos, eu e meu marido, para a direção da CMPC em seu nome. Aceitamos o desafio.
Quando o Primo Décio leu, aprovou, e pediu que apresentássemos exatamente como estava. Ao convite que me fez para dirigir a futura fundação, achei por bem não aceitar, pois o momento não era para escolher nomes, mas sim de aprovar um bom projeto para o Município.
Em almoço agradável no Restaurante Caisinho, semanas depois, entregamos o documento para o Francisco Bueno e a Cristina Olsson, representantes da empresa.
Como é de interesse de toda a comunidade, decidi publicá-lo na íntegra.
“Estas, meus amigos, são minhas ideias de aproveitamento das duas casas antigas da Avenida João Pessoa, em Guaíba, que o professor Décio Andriotti pretende doar para que sejam sedes de uma fundação cultural. Estou feliz em contribuir com este projeto, pois numa delas passei grande parte da minha vida.
Primeiramente, sempre defendi a ideia de que Guaíba precisa ter um Museu do Papel, visto que esta é a indústria característica do Município – já foi chamado de “Metrópole do Papel”.
A Fábrica Pedras Brancas, por exemplo, foi a primeira do ramo a se instalar no Rio Grande do Sul, e justamente aqui em Guaíba. E a norueguesa Borregaard, hoje, a chilena CMPC Celulose Riograndense, na década de setenta, transformou a Região.
Considerando então esta realidade, sugiro que seja instalado o “Museu do Papel” em uma das casas, contando a história da sua fabricação (universal e local), e também a trajetória desta grande empresa na Cidade, suas nacionalidades e maiores lideranças – da Borregaard até hoje.
Para a segunda casa, sugiro uma “Escola de Música”, conectando as duas por meio da “história da partitura musical”, mostrando a importância do papel na preservação da cultura em geral, especialmente da Música.
Seguindo neste tema, a História da Música (universal e local), destacando instrumentos trazidos ao Estado pelos padres jesuítas e imigrantes, por exemplo). E até mesmo os principais instrumentos musicais e ritmos das nações que vieram até nós com a fabricação do papel (Noruega e Chile, por exemplo).
E como sua atividade prática, uma “Escola Infantil de Música”, com aulas de música instrumental (integrando as aulas de gaita da própria “Fábrica de Gaiteiros”); aulas de canto coral e de canto individual para revelar talentos para ópera (sopranos, tenores, barítonos). Trazendo, na medida do possível, oficinas e pequenos espetáculos de Música para o público em geral – como o projeto “Música na Fábrica”, já existente. Por fim, um espaço dedicado ao registro da história das próprias casas, com a trajetória do professor Décio Andriotti e sua grande contribuição para a cultura do Rio Grande do Sul. E uma pequena sala de cinema e teatro, completando o complexo cultural.”
A empresa demonstrou interesse em participar do projeto.
Cristina André
Publicado em 23/2/2019.
