Gazeta Centro-Sul
Sábado, 20 de abril de 2024
Publicidade
11/06/2018 - 14h34min
Comportamento
Namorados
Sabiam, aqueles jovens, que havia diferenças entre eles, bastava observar como se vestiam, qual era o lanche favorito de cada um; e dar uma espiada básica nos tênis surrados e silenciosos que ele usava, contrariando os mínimos detalhes das botinhas de salto fino que anunciavam quando ela se aproximava.
Mas era assim mesmo que acontecia naqueles dias em que se conheceram, os tempos eram de aprender com as divergências. Tinham entendido que cada pessoa se fazia única na maneira de enxergar o mundo, era importante aceitar, respeitar, ter boa convivência com quem pensasse diferente.
E quando se descobriram apaixonados, aqueles jovens, o amor se fez de extraordinário sol a iluminar suas vidas, tiveram certeza de que nada seria empecilho para que seguissem juntos. Tornaram-se namorado e namorada.
Nas primeiras longas conversas, na companhia de amigos, os temas religião e política chegavam com mais espinhos do que flores. Ele, querendo se mostrar mais forte nos argumentos críticos, falava com uma convicção inabalável; ela, sem retrucá-lo, ouvia tudo com atenção, depois colocava opiniões com tranquilidade, não se deixando levar pela onda de eloquência.
Discordâncias, amizades, boas histórias, assim seguiam os finais de tarde, com amores se concretizando naquelas mesas dos antigos bares estudantis, ao som de violão e voz de artistas caseiros, pintando o mundo de ternura e simplicidade.
Nos finais de semana, aconteciam pequenas batalhas musicais entre os namorados, travadas especialmente nas noites de sábado, quando saíam sem os amigos, frequentando o barzinho da moda, um pouco mais caro, porque o repertório e a voz do cantor eram melhores. Entre um brinde e outro, falavam das suas razões ao preferir Beatles ou Rolling Stones, Pink Floyd ou Genesis, os mineiros do Clube da Esquina ou os moderníssimos Novos Baianos, as vozes do MPB-4 ou dos Almôndegas.
Troca de olhares, mãos entrelaçadas, antes de fecharem a conta e voltarem para casa, acordos carinhosos eram feitos, selados por promessas de um ouvir com atenção os discos do outro antes que o próximo sábado chegasse. Então voltariam a conversar sobre as músicas que embalavam suas vidas.
Desde o início, aqueles jovens sabiam que havia diferenças entre eles. Mas eram dias de aprender com as divergências, cada pessoa era única. E quando se descobriram apaixonados, nada impediu que seguissem juntos. Tornaram-se namorados.
Cristina André
Publicado em 9/6/2018
