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Quarta-feira, 24 de abril de 2024

19/03/2018 - 14h38min

Comportamento

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Partidarização dos Sentimentos

Foi uma semana marcada pela agressividade e a desvalorização da vida, como têm sido muitas outras nesses tempos em que o dinheiro tornou-se grandioso deus a comandar o mundo. Imagens de indiferença ao clamor da juventude amedrontada, de armas tirando vidas, da partidarização dos sentimentos.


Na capital americana, estudantes de diversos Estados do País participaram de uma manifestação emocionante, pedindo leis mais rígidas para a compra de armas, receosos que vivem pelo “fogo amigo” que é comum nos ambientes escolares. A resposta de muitos políticos foi a total indiferença, certamente porque há rios de dinheiro com nascentes na indústria armamentista, e essa constatação fala por si.

Em terras brasileiras, na cidade que já foi capital do País, uma vereadora e o seu motorista foram alvejados por vários tiros e morreram ali, em uma cena que é recorrente no lugar que também é do carnaval. Suspeita-se que tenha sido por desavenças políticas, denúncias feitas contra autoridades. Pessoas foram às ruas de grandes cidades para manifestar indignação com a violência urbana, e alguns políticos aproveitaram a onda para surfar na cretinice. Outros declararam estar ali para criticar o aumento das passagens, sem que fosse possível entendê-los naquele momento.

Conduzida por uma perplexidade ampla, geral e irrestrita, lembrei como eram diferentes os dias em que fui jovem universitária, quando aprendi muito mais do que teoremas e equações. Em quatro anos dedicados aos estudos matemáticos, compreendi que postura correta e concentração são realmente imprescindíveis para tirar bom proveito de uma aula de cálculo ou de álgebra; pois não há o que discutir a respeito de um tema antes de conhecê-lo com certa profundidade. E a rotina me ensinou que o bar da faculdade, por conseguinte, era o lugar da livre discórdia, das discussões partidárias alimentadas por cafezinho e sanduíche de bom preço, o que nos favorecia o contentamento.

Eram tempos de recreios filosóficos, de expor ideias próprias a respeito de tudo, de advogar em defesa de utopias que nossos melhores amigos talvez criticassem com veemência. Havia debates entusiasmados sobre a revolução cubana; a viagem que uma das professoras faria para ajudar agricultores porto-riquenhos na colheita do café; a cultura racista dos filhos do Tio Sam, como chamávamos os Estados Unidos; o regime militar e a cena teatral brasileira; GreNais, Novos Baianos, Metalúrgicos do ABC. Depois de tudo, voltávamos à sala para o reencontro com o silêncio das abstrações, a concentração para construir gráficos.

Acredite quem quiser, jamais presenciamos o término de uma amizade motivado por diferenças de opiniões. Ficávamos todos chocados pela morte de alguém, não nos interessava sua ideologia, a religião que praticava, a cor da pele ou os dígitos na sua conta bancária. Sabíamos que a vida era o bem maior, e uma tristeza comovente se apoiava em nós.

Foi uma semana difícil, de violência contra tudo aquilo que um dia aprendi sobre o devido respeito às diferenças, o perigo da facilidade de obter armas, a agressividade que se veste de indiferença, a desfaçatez. E a intolerância ampla, geral e irrestrita que só faz crescer.

Cristina André

[email protected]

Publicado em 17/3/2018.

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