Gazeta Centro-Sul
Quinta-feira, 25 de abril de 2024
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03/04/2017 - 12h34min
Comportamento
É outono
Final de tarde, o vento anuncia, cheio de si, que não há mais verão, o calor foi embora. A vida, agora, acontece nos ares refrescantes de outono, a nova estação que não carece de calendários para se apresentar. É sempre assim que chegam esses dias que se preparam para o frio do inverno.
Na chegada à casa que me aguarda sem cansaço, que não se importa com as medidas minhas ou das ruas, pouca diferença faz se há ventania lá fora.
Mesmo vazia de gente, sinto no ar que o espaço de meus segredos e sonhos é abrigo seguro; reconheço cada móvel, os adornos, as leituras e músicas dispostas ao meu bel prazer.
Bolsa e sacolas descansando sobre os estofados coloridos, o balanço das árvores chama a atenção, é o balé caseiro que me coloca em pura sintonia com a vida.
Nas águas inquietas que se remexem ali em frente, o remédio que me traz a calmaria, ritmo a inundar inesperados e surpreendentes pensares.
Nada me cansa nessa irresistível contemplação, janelas se fazem molduras às diferenças, pinturas mutantes de cada época do ano. Meu lugar no mundo é único, sua beleza estupenda me cativa sem descanso, é acalanto de coração e mente.
Coloco a música preferida a tocar, está no disco novo escolhido com maior cuidado. Na voz suave da cantora, falas poéticas sobre encontros e desencontros do passado; refrãos apontam para vivências que ainda virão; amores verdadeiros em rimas ora graves ora agudas.
É findo mais um dia de notícias e afazeres, de belas histórias e promessas. Relaxo com os cheiros e as formas que se farão alimento saudável para quem está para chegar. Na cozinha, esquento a água, preparo um chá, e volto à paisagem rotineira que me deslumbra.
Eis que um novo perfume se espalha pela casa, é hora de arrumar a mesa, colocar taças de vinho e copos para água. Outra canção se refere às lembranças da infância, o amor pela música e a felicidade das pequenas coisas.
Está tudo pronto. Ouço vozes e passos, é minha gente chegando. Porque já é noite, o jantar em breve será servido e compartilhado. Lá fora, as árvores seguirão com seu balanço noturno, fazendo-se especiais; as águas clareando com o luar de prata.
É outono.
Cristina André
Publicado em 1º/4/17.
